Sobre um belo pássaro que insiste em não pousar na minha janela.
Chegou mais perto e olhou nos meus olhos como quem me desafia.
“Você tem medo. Por isso fica ai. Por isso não se solta, não rodopia comigo, não me segue até a esquina... E por isso fica com esse olhar baixo, como quem diz ‘por favor, faça tudo, mas não me solta você também. ’”
Já soltava minhas mãos, quando eu não te deixei voar. Disse que quem tinha medo era você, e por isso não ficava aqui. Tinha medo de ficar, tinha medo de nunca mais sair. Se de um lado eu tinha medo de rodopiar mais forte, você tinha medo de um dia não mais conseguir, e por isso o fazia. Se por minha vez eu não corria mais até a esquina por ter aprendido nunca te encontrar no mesmo lugar, você não me acompanhava mais até o ponto de ônibus por saber que eu não tinha pra onde ir.
O meu medo é prisão, e pra tua prisão denomina-se liberdade.
Então voa, voa meu belo pássaro. Voa nessa sua tão imensa e louca liberdade, que eu to aqui no mesmo lugar. Mas vê se voa em círculos e volta a me encontrar.