A evolução e o quase acaso me permitiram ser eu

Eu sou exatamente aquilo que você nunca poderá ser, EU; independente do como você é ou do como venha a ser. Eu sou eu, sendo a cada instante um pouco diferente do que já fui, mas somente eu posso experimentar o ser que emerge de meu cérebro, na funcionalidade de minha mente. Eu também nunca poderei ser você, por mais que tente ou que me esforce, somos únicos na unidade dos muitos que nos compõem. Eu e você somos reais, somos imanentes, nascemos e morremos, nos formamos, e eternamente enquanto vida nosso cérebro tiver, criamos e destruímos conexões, por isto nunca somos exatamente iguais ao que já acabamos de ser. A plasticidade de nosso cérebro é o brilho maior de um órgão sem projeto, evoluído a luz dos erros de cópias, selecionados por alguma propensão natural de deixar mais descendentes. Somos reais, materiais, nada ideais, somos seres imanentes, realizando a realidade do ser e do perceber em pleno uso do subjetivo que é a funcionalidade básica de nossa mente, mas não menos real e material por isso. Somos tão complexos a luz de uma tão simples contingência de evoluir em pleno acaso de erros de cópias, que dentre outros inúmeros de erros de cópia permitiu, passo a passo, melhor nos adaptarmos a realidade de uma existência que permitisse aos nossos antepassados sempre e cada vez mais deixar descendentes. A complexidade atual é tamanha que a curiosidade por conhecer quem somos e de onde viemos, frente a complexidade de tudo que existe nos induz a que exista, que devesse existir, algum relojoeiro, um projetista, mas ele não existe, e melhor ainda, não precisa existir, basta abrirmos os olhos de uma mente racional para entendermos que somos seres cheios de falhas de projetos, simplesmente porque não houve projeto algum, a natureza em plena realização de seu existir, sem ética, sem moral, sem projeto, sem finalidade outra além de realizar a maravilha da evolução, nos permitiu aqui estar.
 
A evolução e o quase acaso me permitiram ser eu, nem melhor e nem pior que você ou que qualquer outro, homem ou mulher, muito parecidos entre si, semelhantes em espécie, filhos e netos de humanos, nem sempre humanos quando olhamos com olhos sociais, desumanos a maioria das vezes quando “escopamos” toda a humanidade para o mesmo universo dos vivos e dos que já viveram em nossa espécie, e não preciso de muito esforço para justificar que humanos enquanto espécie, no geral somos desumanos enquanto seres sociais, basta olhar a realidade das sociedades que vivem hoje e que já viveram ao longo do tempo em que podemos historicamente conhecer com alguma certeza. Desumanos socialmente, somos preconceituosos, e interesseiros, por que? A própria evolução é parcialmente culpada disto, pois que precisamos por milhões de anos ser assim para garantir que os meus sobrevivessem e deixassem descendentes, não nos importando ao longo destes milhões de anos o dos outros. O conceito do nosso, ao longo deste anos, enquanto englobasse os meus e os teus não interessava, apenas o nosso enquanto incluísse apenas os meus que comporiam o nosso social local é que interessava. Mas e daí, não é motivo para continuarmos agindo assim, a razão foi sendo selecionada, e hoje somos capazes de, se desejarmos, com racionalidade entender que o nosso a muito deixou de ser local, e passou a ser global. Mas aí nossos interesses pessoais, nossa ganância, nossa prepotência ainda falam muito alto e definimos, quando muito, o nosso com os iguais a mim, aqueles que se destacam, que são diferentes, que não comungam comigo de minhas crenças não são dos nossos, e ai são inimigos, acabam sendo entendidos como uma espécie de “subespécie”, uma espécie de refugo de nossa espécie, ou eles se convertem ou é melhor que sumam, ou eles se subjugam, ou é melhor que fujam. Como podemos nos achar humanos sociais sendo desumanos coletivos.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 20/02/2014
Código do texto: T4699007
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