Falando de retrato
Olhei para o meu retrato 3X4. Era só o negativo.
Nada de positivo consegui divisar.
O que todos dizem enxergar de forma clara e definida
não passa de obscura e pretensa falácia sem fundamento.
Olhavam para uma imagem que só existia em seus próprios diafragmas voltados para si mesmos, cheios de fungos da inobservância dos paradigmas fora de foco costumeiros. Um hábito impresso profundamente em películas contrabandeada pelo tempo mas que nunca se revela à luz de emulsões desgastadas.
Eu, por mais que apure minha visão um tanto quanto embaçada, percebo apenas imagens pressentidas, captadas.
Em meio a tantas observações, conceitos, pré-conceitos, pós-conceitos e pontos críticos, tudo gira ante gruas e agruras que estabelecem ângulos insuspeitos.
E lá me vou, carregando-me a tiracolo, pronto ou tentando estar, alerta ao primeiro ou derradeiro instantâneo que surgir. E nele mergulho cego pelo flash, absorvido pela luz.
O que resta? Apenas o quarto escuro.
E um álbum de lembranças a ser esquecido no último recanto da saudade sépia..