Tristeza...

E foi então que uma tristeza repentina abateu por completo todos os seus sentidos…

Não entendia o porquê de tudo aquilo. As justificativas de Deus pareciam não satisfazer sua ânsia por uma explicação. Eram tantos os disparates que o mundo trouxera que, ver a vida fervilhar entre faltas e incertezas, fora somente o que lhe restara. Esmolas colhidas nas lembranças de um tempo que jamais voltaria… Nostalgia sofrida aquém de suas vontades.

Descobriu nessa realidade adversa os efeitos dos ventos tardios do arrependimento. Sapiência perdida; desperdício sabe-se lá de quê. Em alguma bifurcação da estrada da vida, certamente optou pela direção errada. E se perdeu… Desviou do certo para o incerto. Se perdeu para vagar sem rumo; hoje aqui, amanhã ali, transitando entre o bem e o mal na busca pelo ser que um dia fora, mas já não era. Nem seria novamente.

Nas têmporas grisalhas, as impressões deixadas pelas desilusões; no olhar vazio, os lamentos escondidos e abafados para que estes não incomodassem aos demais. Na febre latente, a interiorização dos pecados que não cometeu. Já não sonhava mais. Na ausência de sonhos apenas os atropelos cotidianos, as idas e vindas que nunca levavam à concretização. Já não sabia para onde ir, somente lembrava de onde viera. Já não sabia se chegaria onde, nos tempos passados, ousou chegar… Talvez não.

Tristeza repentina, maldita e atroz. Tristeza sem nome, sem a força fonética das denominações verdadeiras; sem o grifo silábico das exclamações. Tristeza cujo compartilhamento seria imperdoável, pois, ninguém merecia senti-la ou sofrer junto. Tristeza cuja expressão seria condenada em um mundo de pessoas entupidas de falsas alegrias, arrotando felicidade podre. Tristeza pra ela; só dela… Dos verbos que não se conjugavam mais, dos encontros desencontrados, das partidas sem chegadas. Tristeza de um tempo que se perdeu além dos tempos, para existir mais uma vez na eternidade limitada de uma só vida… ou de uma vida só.

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Barbara Nonato
Enviado por Barbara Nonato em 14/02/2014
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