Invisível
Ainda que eu pudesse gritar,
mas me tiraram a voz, me calaram, roubaram meu grito.
Ainda que eu pudesse chorar,
mas já chorei o suficiente e não foi o suficiente. Disseram que não teve lágrimas o suficiente.
Ainda que eu pudesse morrer,
mas já me conformei de que não sou eu que decido.
Ainda que eu pudesse dormir
fugir, postergar.
Mas nem isso permitem, pois deixam as luzes nos meus olhos,
que ardem,
e amarram minhas mãos,
para que eu não possa, eu mesma, apagá-las.
Me deixaram de mãos atadas num canto da casa,
o canto menos visitado,
e agora eu sou como um móvel da sala, sou invisível.
Um móvel velho, só para decoração,
invisível,
sem ter por onde correr, nem quem me ajudar,
observando o tempo dançar frente aos meus olhos.