Fechado para reformas
(...lendo "Um tanto de coisas" de Ana Nunes)
Hoje resolvi ficar comigo
Não vou atender a porta, nem o telefone.
Hoje resolvi deixar de existir lá fora
Pra fazer-me existir apenas dentro de mim.
Ah, quantas coisas desarrumadas por aqui...
Uma tempestade passou e eu nem havia percebido.
Andei me abandonando, me ocupei demais com o mundo que vivo
E esqueci-me de viver o universo que sou.
Percebo agora que “Um tanto de coisas” quiseram morar em mim,
Como um pássaro que hoje me deu um tremendo susto
Querendo entrar na minha casa e deu com a cara na janela de vidro fechada.
E ele, como tantas outras coisas, pousou ofegante no galho da árvore ao lado olhando pra mim
Com cara de dor e frustação.
Mais que nunca, é hora de abri minhas portas e janelas.
É hora de me enxergar melhor para sofrer menos.
Talvez, assim, vou dar conta de que as pedras do caminho
São pedras preciosíssimas.
Que entrem os “sacis e as fadas”... os pássaros e suas cores.
Uma árvore cresce do lado de fora e um galho quer invadir meu quarto.
Pensei em podar... Mas por quê?
Dei-me conta, é um abacateiro e o que ele quer é trazer seus frutos pra dentro de minha casa!
Meu Deus! Como tenho me existido tão pouco.
Como tenho resistido a isso tanto assim?
Por isso, a partir de hoje, me proponho a viajar para o interior;
Para o interior de mim mesmo.
Hoje, quero ouvir o que eu tenho pra me dizer.
Vou deitar no colo do meu espírito e pedir cafuné
E ouvir as suas verdades...
Estou em obras... Fechado para reformas.