O devastador ataque de um pensamento

Um pensamento pode ser, para o pobre indivíduo que o acolheu, uma das forças mais irresistíveis do universo.

Uma vez concebidas, estas microscópicas entidades são julgadas pelo crivo implacável da razão e da emoção, assim como bilhões de suas companheiras, e classificadas de acordo com sua relativa relevância, para posterior recuperação. Entretanto, ocorre por vezes um defeito no sistema: quando uma determinada ideia é julgada perigosa demais para existir, e os dois juízes determinam que ela seja destruída, o efeito contrário se aplica; a ideia ganha força, se instala em uma área não autorizada e de lá começa a florescer. Como está nos limites da jurisdição das forças reguladoras da mente, todas as tropas enviadas para neutralizá-la são facilmente derrotadas pelo envolvente discurso sedutor e corruptor do pensamento rebelde. Crescendo em tamanho e poder a cada nova investida, a ideia expande seus domínios, cooptando facilmente as hordas da emoção - que por sua natureza fluida é mais naturalmente influenciável - e sitiando as tropas da razão, estas mais fiéis às suas premissas e portanto detentoras de um maior poder de resistência. O resultado deste embate no já citado indivíduo receptor é um caos de pensamentos e sentimentos retirando seu foco, alterando seu humor, brutalizando sua tranquilidade e questionando sua motivação. A ideia luta para viver, para dominar e conquistar todo o território constituído pelo indivíduo; ela foi atacada e condenada ao nascer, agora não aceita mais negociar e só vive para expandir seu império. A razão, acuada, luta dividida uma batalha injusta contra as forças avassaladoras da ideia combinadas com as da volúvel emoção, enquanto precisa manter suas funções de coordenação da vida do indivíduo, zelosa para com sua missão de manter a integridade e segurança do seu entorno.

Quando ocorre este defeito, não há espaço para acordos de paz: ou a ideia é aniquilada, com aquele indivíduo morrendo um pouco pela perda de todas as terras colonizadas pela ideia, ou a razão é derrotada, e a ideia triunfante domina os atos do indivíduo, conduzindo-o a um caminho desconhecido de aventura e riscos incalculáveis, que podem trazer conseqüências perenes para toda a comunidade na qual o indivíduo está inserido. A sorte está lançada, o conflito está travado; a história será contada, não pelo mais valoroso exército, mas pelo absoluto vencedor de uma guerra silenciosa.

Leonardo Barros
Enviado por Leonardo Barros em 09/02/2014
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