O eco da Fé

Eu observo de novo a conversa a minha volta com um suspiro pesado. Entro no papo ou continuo a ouvir? sacudo a cabeça pra demostrar minha desaprovação ou permaneço essa estátua muda de discordância?

Algo por dentro diz : "não perca seu tempo, ninguém vai ouvir oque você diz."

E eu tremo com a veracidade dessa informação. Ninguém, de fato vai. Até que se prendam com atenção em minhas palavras, o resto tá em outro lugar, em outra sintonia. É como se abrisse uma fenda na conversa para aquilo-que-ninguém-quer-saber.

Eu permaneço Muda. Ficar muda é meu mecanismo de defesa.Porém, Ficar muda faz com que eu me ataque por dentro e me cobre reação. Reação e Reatividade são muitas vezes confundidas em minhas atitudes. E eu não quero ser de novo, chamada a atenção por isso, porque tenho medo.

Fico muda e com medo. Em minha batalha interna, uma coragem se agiganta,berrando em meus ouvidos por atitude. Isso faz com que o lado de fora também seja afetado. Minhas mãos suam, meus pés batem no chão incontrolavelmente,eu termino de roer o caco das minhas unhas.

-FALE, FALE ALGO, DIGA ALGUMA COISA, DIGA NÃO!! berra um lado

-fique quieta, é melhor, evita dor de cabeça e perda de tempo... logo acaba. diz o outro

No meio da conversa, eu pesco a palavra fé. Fé. tão pequena e tão grande. nesse momento reduzido a um simples monossilabo pra mim e nada mais. Algo amargo surge na minha boca,como se evocado pela palavra. é o seu oposto , a falta dela, o eco que reverbera na minha cabeça, nos meus pulmões, na minha vida.

E a falta dela que me deixa muda, com medo, castrada num canto da mesa, apenas concordando pra evitar confronto.Porque quando ela foi, não escolheu setores...foi de vez e em tudo. foi sem deixar portas ou janelas abertas, trancou tudo, levou tudo consigo,deixou tudo vazio.

E vazia eu estou desde então. com um sublimado sorriso amarelo no rosto e as mãos pousadas no colo. Falando baixo,falando manso, falando pouco, rindo menos... As vezes algo remexe lá dentro, querendo reavivar a fé como se fosse uma fogueira. Pode ser uma música, uma imagem, um cheiro... mas nada que dure, nada que faça fagulha.

E nesses dias, em minha vida vazia, um amigo sem papas na língua, sem conveniências ou convenções pessoais no meio de uma conversa me disse: "você acha que está fazendo oque quer, ou oque os outros querem que você faça?" E por baixo dos óculos dele, seus olhos estavam fixos em mim, como se me vissem por baixo da carapaça que criei. Faz tanto tempo que ninguém me lê assim que eu ache julguei que ninguém mais seria capaz, ou que talvez eu tivesse em alguma língua muito complicada, ou quem sabe morta.

Me pegou de surpresa. Me peguei gaguejando, me peguei pensando nisso no caminho pra casa e pensando nisso desde então. Me questionei muito, muitas vezes, até ter a seguinte resolução: Questionar, é o primeiro passo para a fé.

E em muito tempo eu senti um gostinho de fé em mim mesma, voltando pro corpo. porque essa é a fé primordial para se ter.

Keila Machado
Enviado por Keila Machado em 07/02/2014
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