Valium, a encomenda diária
Não sou todos os minutos, mas em todos os minutos estou cansada.
Esta fila comprida em que me encontro e espero sei lá eu o quê. Esta fila comprida em que me posiciono todos os dias quando acordo. Quando abro os olhos e só esperava não ter de os abrir.
Estou cansada? Acaso já disse que estou cansada?
Preciso de dizer, que estou cansada! Preciso dizer isto muitas vezes para que o sintas verdadeiramente. Para que sintas nestas palavras o peso do tédio. Este insustentável peso. Esta bomba atómica que pela manhã é sempre mais pesada.
À noite tornamo-nos mais íntimas. A solidão, o tédio e a vontade. A vontade de que te falo é íntima do desespero e está para ela como a solidão está para a minha melhor forma de entretenimento.
Doí tudo, mas não sinto nada. Obsessão, compulsão, Zás!
Não quero ter importância para ninguém e ninguém me é demasiado importante. Não é por isso que me sento no divã do psiquiatra.
O meu suicídio é diário, é esta frieza dos pés às mãos que causa em mim alguma curiosidade. Alguma da outra está agora no olhar, que alcança a caixa de Valium.