Sobre estupidez

Faz pouco tempo, li na citação de um filósofo, que ele, aos 60 anos, sabia o mesmo tanto de quando tinha 20. Deixa claro que teria passado esses seus 40 anos restantes “num longo e inútil trabalho de verificação”. Em outras palavras, foram 40 anos checando o óbvio no estilo “já vi esse filme antes”. Num comentário de uma colega daqui do recanto a um texto meu, falando sobre estupidez humana, ela diz que tal estupidez não terminaria nem quando morta por ela mesma. Concordo com você, Edeni. Com o filósofo citado, Émil Cioran, também. Há quem seja estúpido por opção, como também, por falta dela. Deixando de lado esses últimos, pois sugerem algum tipo de limitação mental ou distúrbio, os primeiros usam do livre arbítrio, quando escolhem a estupidez, mesmo que por impulso. Quem pratica estupidez por impulso, como eu já o fiz algumas vezes, imagino que não faça disso um hábito, pois a consciência cobra e o custo é caro. Resta, portanto, o grupo dos rotineiramente estúpidos, aqueles que fazem disso uma ideologia. Dentro desse último grupo, conheci muitos que, ao que parece, nasceram assim, carregando maldade nos genes, enquanto outros penso que tenham cedido a alguma pressão ambiental vinda da pobreza, seja material ou de espírito. Material, digo, de recursos, e de espírito, me refiro a educação ruim ou ambiente familiar medíocre. A pós-modernidade está repleta de ambientes familiares decompostos ou medíocres. Falta de uma boa educação nas escolas ou nesses lares, também deve ser lembrado. Mas vale recordar que a estupidez humana é bem anterior a tudo isso. Culpar os dias de hoje, portanto, é um erro. Culpar a nós, humanos, faz muito mais sentido. Animais estúpidos duram pouco tempo. A seleção natural dá cabo deles. Humanos não, com seus intelectos burlam a seleção, e sem ele, prosseguem em sua estupidez. A lei contém os excessos e pune apenas a ponta final da corda, depois de toda ela já formada. Talvez tais excessos pudessem ser inibidos com uma vigilância mais austera do processo que fia essa corda, mas isso não seria democrático. Talvez o sistema capitalista, no estilo sociedade de consumo, esteja errado na modulação do caráter das pessoas, mas todos os outros sistemas, que se alicerçaram na justiça e bondade humana, faliram. O sistema, portanto, também não tem culpa. Outros culpam o dinheiro, mas dinheiro não é o problema, já que a estupidez se distribui à vontade por todas as faixas de poder aquisitivo. Quanto à ganância, concordo. Ambição crônica e desmedida? Também. Por que, afinal, eu estou escrevendo isso tudo? Seria raiva? Pode ser, mas justificável. Ando meio cansado de ler sobre a nossa estupidez coisas que, de algum modo, procuram perdoar a nossa espécie em nome de uma natureza originalmente boa. É ridículo, pra não dizer estúpido. Praticamos estupidez e ponto. A história foi flagrantemente escrita com sangue e ponto. Quem pode mais chora menos e ponto. A corrupção, vaidade, pouco caso com a vida alheia, egoísmo exacerbado, imperialismo e outros interesses escusos são características humanas e ponto. O que me anima é estar certo de que não somos apenas estúpidos, mas também estúpidos. Muitas outras qualidades foram capazes de bem nos organizar em civilizações, portanto, evoluímos. Bom senso, por exemplo, é uma delas, e controlar a estupidez das massas foi o primeiro passo de praticamente todos nossos grandes líderes ao usá-lo.

GripenNG
Enviado por GripenNG em 04/02/2014
Reeditado em 07/02/2014
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