Beijo Gay

Que euforia é essa por conta de um beijo gay numa novela global? Como se fosse um rompimento com os padrões midiáticos? As novelas da Globo só se preocupam com uma coisa: audiência e ponto.

Não podemos considerar a teledramaturgia global como uma produção artística com o poder de desmistificar a realidade. Pelo contrário, a obra é modificada a cada capítulo de acordo com os indicadores de audiência. A reflexão que ela pode trazer muitas vezes é dada e superficial, não se trata de uma obra que subverta a realidade.

O beijo homoafetivo na novela certamente viria um dia, mas não por audácia do escritor ou do diretor, mas pelo reflexo na audiência e a pequena, no entanto, já possível aceitação social. Pequena aceitação porque foi apenas um selinho.

Vale lembrar que em outro contexto a produção não teria essa audácia. Portanto, a obra em si não fez nada de subversivo: apenas seguiu os indicadores. Mas, sim, é sabido que há ainda muito preconceito. Basta lembrarmos o caso do adolescente Caique.

A minha crítica não é voltada ao desejo do público, que, apesar de ser de uma parcela ainda pequena a vontade de liberdade. Acredito inclusive que deveria realmente existir uma aceitação maior: o indivíduo deve escolher a sua orientação sexual. A minha crítica é ao oportunismo global e à pobreza artística das novelas.

Ressalto que a caracterização que faço é a respeito da teledramaturgia global: uma obra preocupada com audiência e não com a desmistificação da realidade.

O beijo (selinho na verdade) foi um eco das pesquisas populares, mirando o Ibope. Porém, o produto novela televisiva está longe de subverter qualquer contradição social. O ponto positivo é o fato social.

Por isso, acredito que não deveria existir essa "euforia" por uma novela global, pois fizeram não pelo rompimento artístico, mas pela carência da audiência.

Num trocadilho: a novela não contesta o contexto.