Um pouco de Nietzsche
Crescemos com aquela ideia de que a democracia é a melhor forma de organização política. É de práxis acreditar que todos são iguais. Como abordar essa questão tão delicada¿ Do ponto de vista Nietzschiano há aqueles que não servem para nada ( inferiores), assim como há aqueles que são talentosos, fortes, úteis etc. Em sua obra, ele surra bastante esse ideal de igualdade. Sabemos bem que cada um possui suas particularidades. Em geral, apregoamos que todo indivíduo tem a sua vocação, o seu talento. Talvez não seja bem assim.
Idealizamos demais o mundo ao nosso redor. E tudo o que dista desse ‘ideal’ doentio não serve, não presta. Criamos uma imagem, por exemplo, de que o sexo só pode ser feito com amor... Muitas vezes, negamos os nossos instintos, a carne, a matéria com a promessa divina de vida eterna. Negamos o aqui e o agora para desfrutar de uma possível vida após a morte. Nietzsche classifica esse tipo de comportamento como niilismo negativo. No entanto, vale ressaltar que ele NÃO fala de niilismo em seu sentido comum. Na realidade, niilismo significa, basicamente, a negação dos valores, dos ideais e afins. Mas, Nietzsche chama de niilista, justamente, quem acredita em valores. Um cristão é um niilista para Nietzsche, porque ele NEGA a vida terrena, os prazeres, as sensações, o mundo sensível para alcançar a eternidade.
A polêmica e, geralmente, mal interpretada frase: deus está morto diz respeito à morte do pensamento que assolou o ocidente durante séculos, ou seja, a mentalidade cristã. À sua época, as pessoas passaram a privilegiar o raciocínio, o pensamento científico. Iam aos médicos, porque só reza não curava. Entendam: mesmo que não negassem a existência de Deus, colocavam-no quase sem querer em segundo plano e dando vez à ciência. Admito que nossa mentalidade ainda é muito cristã, aliás,ao longo da história é possível perceber que o pensamento ocidental dá preferência às vertentes filosóficas que não agridem o cristianismo,já as vertentes seculares ficam em segundo plano.
Nietzsche estudou os pré-socráticos e, simplesmente, atacou o pensamento socrático-platônico. Ele considerava os filósofos pré-socráticos os verdadeiros filósofos. A filosofia dessa época era permeada pela noção do devir, da constante transformação. No entanto, os sucessores fizeram o “favor” de abandonar essa noção em prol de ideais. Até hoje, observamos um contingente significativo de pessoas esquecendo-se do presente para concentrar-se no futuro, ou mesmo, na vida após a morte.
Outro ponto importante é que as pessoas falam no ser, na essência. Lindo discurso, todavia se adotarmos a noção do fluxo, da transformação até o ser estaria em constante mudança, portanto, não sendo imutável. Além disso, na prática sabemos que é pura hipocrisia na maioria dos casos, cultuamos sim a medida do ter. Sob a máscara de bom cristão, escondem-se pessoas, muitas vezes, que priorizam o consumo desenfreado, valores insustentáveis etc.
É inegável que a religião tem uma função social: domesticar os homens ( nem sempre com sucesso). Também podemos observar que consiste numa falácia atribuir guerras somente a religiosos ou ateus. Temos exemplos de violência de ambos os lados. Religião não define caráter de ninguém, assim como a ausência de crenças também não.
P.S: Não sou contra o cristianismo, tampouco os cristãos. Sequer sou ateia, mas devo admitir que não combino com religião. Abordei um pouco das ideias de Nietzsche e dei, também, a minha opinião. Não me entendam mal. Além disso, não concordo com muita coisa que ele escreveu. De todo modo, é o meu filósofo favorito.