Onda de frigidez.

Uma onda de frigidez pairou sobre mim novamente. Como se eu não pudesse mais evitá-la, ergui-me sobre o sofá e senti o seu fluxo deixar-me impassível. A minha condição é simples: eu não quero permitir que o sofrimento tome conta de mim outra vez, então não deixaria o corpo entregar-me à paixão. Inicialmente, senti um alívio, mas logo veio um sentimento de repressão: inevitável para aqueles que se condicionam a não amar. Uma condição suspensa, reprimida.

Tão logo meus amigos se foram de minha casa, apareceu um fantasma de solidão, um espectro de dor e uma essência de medo. Medo de não mais me ser, medo de não mais amar. Bem sabemos que uma mentira pode tornar-se verdade. Como se de tanto mentir para mim mesma, aquilo se cristalizasse em mim de modo indelével. Uma mentira que se torna verdade. Passo a acreditar que sou louca e vivo esta loucura.

Desta maneira, sou refém da necessidade de inventar outro eu. Uma necessidade imaginária, no entanto ainda uma necessidade. Esse eu ‘virtual’ ou, talvez, embrionário se desenvolve. De potencial torna-se real. Não aceito o meu próprio eu. Aquele que se reduz a paixões insanas. Tento voltar-me para o intelecto, na esperança de banir de meus multi-versos um propósito descompensado. Multi-versos... Sou cacos de multi-versos espalhados dentro de uma divindade chamada de Universo. A minha unidade está esbagaçada. Mas, o todo é inseparável da parte. A parte é uma representação do todo. Sou uma amostra de minha divindade. Um micro-cosmos.

Cheguei a uma constatação terrível e prematura: não sou feita para o amor. Por que não? Depois de tantas experiências, no mínimo, embaraçosas com tal sentimento dou o meu veredicto: não sou feita para o amor. Intimamente, sou amorosa... Não obstante, não sei lidar com o amor. Ele me arruína. Então, o que fazer? A negação do amor é árdua. Mas no meu caso, temporariamente, necessária. Não me sinto pronta para amar. Ainda sim, creio em que todos possam fazê-lo logo minha conclusão é prematura sob este ponto de vista. A verdade é que já estou calejada. Não consigo fluir no amor, não consigo me entregar ao amor, porque apesar de sentir medo de não mais amar, o medo de amar é ainda maior. Caio infinitamente até o meu âmago, mas nunca chego lá, uma vez que a queda é infinita. A essência é inalcançável, intangível.

Lorena Karla
Enviado por Lorena Karla em 29/01/2014
Reeditado em 29/01/2014
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