(Re)encontro

Eu lembro de você. Estudávamos no mesmo colégio e a tua sala ficava ao lado da minha. Lembro-me que nos falamos poucas vezes, talvez um "oi" ou "sabe se a professora de geografia veio hoje?". Lembro que, num dia qualquer, sua amiga me fez uma pergunta e eu inventei uma mentira qualquer para me sentir superior. Minha timidez não me deixava socializar, meu medo não permitia que eu me aproximasse de qualquer pessoa além das minhas três ou quatro amigas.

Crescemos. O tempo passou rápido, hein? Fomos para escolas diferentes. Comecei uns dois cursos e não terminei nenhum; o primeiro foi porque não podia, o segundo porque não queria. Me apaixonei por um cara que nem sabia meu nome e depois por um que foi morar longe. Doeu ter que me afastar dele e eu culpei o amor por ser tão maldoso. Eis que, do nada, eu lembrei de você.

Não sei como ou quando, mas começamos a nos falar novamente. Você mudou, cresceu, ainda estuda com aquela mesma amiga que me fez uma pergunta quando nós tínhamos uns doze ou treze anos. Fiquei sabendo que teve um relacionamento com uma guria do teu colégio. Eu ri. Você sempre me pareceu tão "não gosto de ninguém", então foi estranho saber uma coisa deste tipo.

E, por mais estranho que pareça e depois de tanto tempo sem um "oi" ou qualquer coisa do tipo, você me chamou para sair. Hesitei. Decorei meu texto: "espero que, antes de tudo, saiba que eu ainda sou tímida. Só para piorar, acabei me tornando um tanto quanto chata. Mudei só um pouquinho, continuo sonhando alto, só que agora mantenho meus pés no chão. Mas, se quiser, podemos conversar sobre livros. E músicas, séries, lugares, blogs, biologia, filmes e sobre aquele pessoal que estudava conosco e que mudou tanto ao longo destes anos. E, falando sério, não vou me importar se ficarmos sem assunto de uma hora para a outra. A gente pode simplesmente ficar ouvindo alguma música ou observar o passar das horas. E podemos também ir até uma sorveteria (mesmo que, secretamente, eu prefira aquela loja que tem a cara do inverno, aquela que vende cappuccino e pão de queijo, sabe?) e andar naquela avenida movimentada onde toda a cidade se esbarra. E, no fim, eu só vou conseguir dizer que adorei te encontrar novamente."

Quando ia começar a falar, mudei de ideia. Apenas assenti com um breve aceno de cabeça. Que seja feita a vontade de Deus, amém!

Lillian Cruz
Enviado por Lillian Cruz em 22/01/2014
Reeditado em 22/01/2014
Código do texto: T4660669
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.