Retalhos da vida de Zuzu - A Feirante

     Existem momentos, passagens da nossa vida que ficam gravados para sempre na memória, é como se tivéssemos um cantinho do cérebro reservado para essas lembranças da infância.
     Eu tinha apenas doze anos, papai havia comprado uma barraca de feira para vender armarinhos e junto uma carroça com um cavalo. Todos os dias era uma trabalheira, papai me ensinou a encilhar o cavalo e prepará-lo para colocar na carroça.
     Era um cavalo bonito chamado canário, ele era muito temperamental, muitas vezes quando ia colocar o cabresto ele se espantava e saia desembestado, eu ia atrás com um laço para trazê-lo de volta, isso se repetiu várias vezes, mas logo estava atrelado à carroça para sua costumeira rotina diária. Quando chegavam da feira, tudo se repetia, guardar as mercadorias, tirar os arreios do cavalo, dar comida e água, passar o rastelo, etc.
     Mamãe estava grávida e logo não pôde mais acompanhar papai, então comecei a ir no seu lugar, também porque papai enxergava pouco, não podia ficar só. Foram tempos difíceis, de muito trabalho, enfrentando o frio, a garoa das madrugadas, mas tudo por uma boa causa, para colocar comida na mesa de uma família simples e humilde, porém nobre e muito especial, onde o amor prevalecia sempre em qualquer situação, família esta que tenho muito orgulho de pertencer. Essa é a minha família.