Terra à vista (?)
As páginas que o tempo se encarrega de amarelar eu nunca jogarei fora. Assim, quando o meu tempo for mais longo que a memória, elas estarão lá, para me lembrar de cada passo que ainda hei de dar até que não tenha mais forças.
Sempre há calmaria depois da tormenta, mas a quietude amedronta o velho pescador que sempre espera uma tempestade pior que a anterior, mesmo que às vezes o faça sem perceber. Há tempos que meus pensamentos velejam num mar sem brisa, sem visão de porto seguro e sem âncora. Sim, oras, sem âncora. Se o porto for seguro de verdade, não precisarei mais do barco, caso contrário, não tenho motivos para me prender a algo tão duvidoso, e continuarei navegando.
Agora a névoa densa encurta a visão, impossibilita previsões e requer muita coragem para seguir em frente. Se esta por sua vez não vier por bravura, virá por medo da estagnação.
O vento que soprou me trouxe até aqui, e daqui nem um palmo a mais. Contudo, de nada adianta esperar que alguma casualidade me traga de volta o vento que outrora inflou minhas velas.
Se ainda necessito navegar, é que continuo sem o tal porto seguro.
Até lá, remos, braços e coragem nunca haverão de me faltar.