UM MUNDO EM NÓS

Trancados em nós, olhamos para fora e vemos que há um outro mundo, e este, apesar de ser bem maior que o nosso, muitas vezes, ainda assim, não possui a força que o nosso contém. Sim, gigantesco mundo do nosso lado de fora, o qual é muitas vezes tão pequenino sob a nossa ótica de desesperança, que é por nós forçado a manter-se exatamente como e onde está. Ou seja, bem pequeno e preferencialmente a uma distância que nossos olhos e nem nenhum outro sentido nosso possa percebê-lo.

Há um mundo em nós, bem dentro, bem em nós... Passeiam por ele, pessoas a todo o momento. Pessoas que vão, que vêm, que insistem em permanecer perto, que teimam em manter distância. Que partem e retornam, e as que simplesmente partem... Mundo de dentro, que como o de fora tem suas estações, mudanças, fases, estradas, parques, prisões, tribunais e até mesmo jazigos. Ao de dentro só cabe a nós a permissão de mudar conforme as estações de cada tempo.

Estar ciente das estradas planas e acidentadas. Divertir-nos, no parque do autoconhecimento; Gargalhar nos circos das amizades; Absolvermos-nos e nos permitir sermos absolvidos das sentenças desnecessárias feitas nos tribunais onde a Justiça prevalece; Desprender-nos das amarras e prisões dos maus pensamentos e por fim, não nos tornarmos visitantes de jazigos de pessoas vivas.

Este mundo em nós, pode influenciar e ser ao mesmo tempo influenciado pelo o mundo de fora, que apesar de gigantesco, torna-se muitas vezes tão pequenino, quando as pessoas que o compõem são pequeninas em seus mundos. E desta forma, esse mundo em nós pode ser ainda menor e vir a tornar-se mundinho. Isto ocorre quando não o dividimos e o queremos apenas para nós. Em nossos mundinhos vamos nos deparar com muitos outros mundinhos e corremos o risco de acabar vivendo em mundinhos parecidos...

Saber a forma e o momento certo para abrir e fechar a porta dos nossos mundos é essencial, mas sempre mantendo o cuidado de não deixar que a porta se tranque, para que não fiquemos trancados nem dentro e nem fora dele, seja com alguém, seja só. Às vezes é bom e se faz necessário fechar a porta sim, não para fugir, mas para nos protegermos, e lembrar de quem somos, e curtir unicamente a nossa presença. Reflexão, respeito por nós mesmos, por nossos limites, nossos tempos, nossos passos, nossos ritmos, nossos momentos...

O mundão de fora muitas vezes nos desperta o orgulho, a vaidade, e quando isso acontece, o de dentro vira mundinho medíocre, repleto de espelhos partidos e reflexos de imagens distorcidas. Há um mundo em nós, e não poucas vezes ele fica cinzento e feio assim como o de fora. Mas, volta a ser dia lindo e com céu azul. Só nós podemos decidir o que fazer dele e escolher como nele viver e não estarmos realizando como tantos outros, a penosa tarefa de apenas com ele coexistir.