UM recorte de uma madrugada qualquer no subúrbio carioca (com medo de tudo que vou esquecer um dia).
É impressionante a rapidez com que perco o sono
por coisas que eu bem sei que não valem tanto a pena.
Em um ou dois anos mal vou lembrar dessas noites
quentes de janeiro eu que fiquei acordado olhando
pela janela a trepadeira que deixei crescer e que fudeu
com todo o meu muro.
Nesses dias (ou melhor noites) eu percebo que estou
ao menos na área certa, pois de que forma ia conseguir
estar de pé sei lá, as seis e meia ou sete horas, para as nove
estar em um lugar engravatado com o nariz seco do ar condicionado
em um daqueles prédios espelhados do centro.
Pode ser que eu morda minha língua a ponto dela cair um dia. E eu
venha a passar toda velhice fudido sem sem uma previdência,
limpando os banheiros desses mesmos prédios envidraçados,
sendo um uniforme sem nome enquanto os jovens engravatados
(dos quais de certa forma fugi) continuam a mijar fora da privada.
Queira Deus (esse mesmo que eu não acredito) me prove sua
existência ao menos me livrado dessa, e me fazendo permanecer o
mínimo de tempo possível onde não haja amor.
Pois eles estão lá, eles sempre permanecerão lá. E se não
houver lugar melhor onde dê pra ficar, que ao menos eu
me conserve por aqui. Com todo o ônus e bônus que venham
embutidos nisso.