Querida Sombra.

Os fantasmas que a amedrontavam, já não eram os que pairavam sobre si. eram agora, os que iam sem demais explicações. Foram após muito amedrontarem, intimidarem. Foram após acostumar-me.

A consequência do abandono é irredutível. Independentemente de quem partiu.

Fantasmas. Quem dera não fossem meras pessoas que se perderam de seus corpos, procurando apenas um modo de se suprir, em busca de um modo de sobrevivência. Tendo a necessidade de dizer-lhes a sua importância. Fantasmas que carregam em si o egocentrismo habitual. Pós alcançarem conforto e egos inflados, partem.

Deixam sua mãe de aluguel. A qual necessita-se para curar a magoa, que as revoltas almas causaram. A magoa que não é levada as suas progenitoras por um simples fato. Esses fantasmas, para suas mães, não são. Não terão coragem de ir. Não poderão ir. Muito menos querem ferir.

Quão mais fácil é encontrar uma sombra solitária, usufruir do que ela oferece, sem ofertar reciprocidade?

Ao lado de um copo de gim, estava eu sentada. Sem fantasmas. Que sugaram-me a alma.

Curioso é o fato de que enquanto sugavam, supriam. Um vinculo que só se estabelece no momento em que se doa.

Dói.

Em exatas linhas, a consequência do abandono é irredutível.

Só acompanha-a sua sombra e um copo de gim.

Eu e minha querida sombra.

Eu, meu copo de gim.

Eu.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 31/12/2013
Código do texto: T4631249
Classificação de conteúdo: seguro