Assessores do saber
Muitas coisas pra mim não faz sentido algum e existem algumas coisas que são extremamente sem sentido e por serem extremamente sem sentido me aguça a curiosidade e me enche de um meio prazer misturado a nostalgia do mistério que permeia meu ser. A arte de lecionar, por exemplo, resolvi dedicar alguns anos da minha vida para licenciatura, não foi fácil porque não aceito me prender a objetivos, sempre preferi coisas sem objetivos, entendo a palavra objetivo como gaiola. O importante é ser livre, não totalmente noventa e nove por cento de liberdade é presumivelmente o ideal. A licenciatura vem me mostrando através de minhas curtas práticas iniciadas recentemente que fiz tanto uma boa escolha, mesmo com a profissão professor sendo vandalizada todo tempo, fiz uma boa escolha e não foi de um todo perdido esses três anos indo a uma ridícula e doutrinaria academia universitária. Com o fracasso da escola hoje não mais ensinamos e sim acompanhamos as crianças e aprendemos muito mais com eles do que com as nossas próprias práticas adquiridas ao longo de alguns anos - pode não ser exatamente isso na prática em muitas escolas por ai, mas intuitivamente é isso que ocorre. É tão fantástico isso - o professor não é mais sabedor de tudo, não é mais o centro do saber em uma instituição agora o aluno (palavra também ultrapassada) sabe mais que ele, porque tem em suas mãos o cérebro digital. A lousa é mero enfeite de parede agora, sentar ao lado da criança e observar, acompanhá-la na construção do saber, acompanhá-la construindo-se sem meio termo, sem regras, sem padrões pré-definidos. Eis a nova prática do professor em sala de aula daqui alguns anos. Só lembrando que professor também já é um termo ultrapassado agora se designa "assessor do saber".