Sorria, Você está sendo Filmado Eternamente
Caminhando pelas ruas do Recife, cheguei a triste constatação de que somos escravos. Sim, somos aprisionados num mundo que é 24 horas do dia monitorado. O Estado, utilizando o pretexto da segurança, instala cada vez mais câmeras nos espaços públicos da cidade. Ela, a máquina estatal que tudo vê e que tudo pode, quer colocar sob o seu controle todas as pessoas, intimidando-as no seu direito de ir e vir e ameaçando-as no seu direito à privacidade.
E, nesse sentido, as árvores e os mobiliários urbanos não podem ser uma ameaça ao monitoramento e, caso sejam, o poder público não hesita em transferi-los de lugar, mesmo que isso prejudique o conforto dos cidadãos. O recifense, que antes ficava preso em sua própria casa por causa da insegurança, cercado de grades e alarmes, agora está numa prisão sem paredes, monitorado pelo Estado Onisciente, contudo, nem sempre Onipresente. Pois muitas vezes, mesmo com as câmeras, os crimes acontecem nas ruas.
Habitamos, portanto, num imenso BBB, onde os concorrentes somos nós mesmos. Acuados pelo olhar do outro, olhar intimidador e censurador, e que pode nos reprimir nos menores dos erros. Olhar que possui zoons, giro de 360 graus, sintonia fina, e imagem digital. Ora, toda essa tecnologia para nos vigiar e nos pré-julgar, sem direito a queixa e bico de contrariedade. Afinal, já diz aquela velha, e irônica, mensagem que é colocada nas paredes das lojas de shopping: “Sorria, você está sendo filmado.”