...E o Natal?
Sempre gostei de natal, desde pequenininha. Lembro-me bem da alegria que sentia à aproximação de dezembro. Na escola, os trabalhos e festinhas relacionados ao natal; confeccionávamos carinhas de Papai Noel, ensaiávamos teatrinhos e jograis, fazíamos presentes para as mães. Era sempre gostoso saber que, em cima do armário do quarto, em uma caixa, me esperava a boneca que eu pedira. Gostava do cheiro de cedro na nossa sala de estar, os enfeites espelhados, o algodão fingindo ser neve... e na véspera, os preparativos: minha mãe e irmãs na cozinha assando manjares e fazendo rabanadas; meu pai chegando com o peru e um garrafão de vinho. Momentos que jamais esquecerei.
Mas o natal mudou. Hoje, faltam muitas pessoas à mesa. E embora eu ainda continue gostando do natal - pelas lembranças boas que ele me traz - não é a mesma coisa... mas, se pensarmos bem, nada permanece o mesmo. Tudo muda.
Estive hoje assistindo a um programa sobre a depressão no natal, onde o apresentador entrevistava um psiquiatra e uma psicóloga; eles falavam para as pessoas que não gostam de natal; aquelas, que se sentem deslocadas no meio de tantas comemorações, compras e tumulto. Uma moça do sul do Brasil deu um depoimento ao vivo. Ela disse detestar o natal porque as pessoas agem de maneira forçada: compram presentes por obrigação para pessoas de quem não gostam, e mesmo que tivessem motivos para estarem tristes, tem que demonstrar alegria e felicidade. É verdade; olhando por este prisma, o natal pode ser uma data deprimente! Mas prefiro olhar para o natal de outra forma. Prefiro vê-lo com os olhos cheios das lembranças das cenas de quando eu era criança, e meus pais eram vivos, e eu tinha ainda as minhas fantasias sobre a tal Noite Feliz.
Acho que sempre montarei uma árvore, enfentarei a casa, e seja de que jeito for, tentarei vivenciar o natal da melhor forma possível; sei que existe alguma coisa nesta data que é maior e mais forte do que apenas a hipocrisia das reuniões forçadas e dos presentes comprados por obrigação. E esta coisa, esta magia descansa bem além dos motivos religiosos. (Porque acho que todos sabem que o dia 25 de dezembro, que simboliza o nascimento de Cristo - esta figura enigmática que causa tanta polêmica até hoje - é apenas uma data simbólica).
Ninguém sabe com certeza quando Cristo nasceu, e o que realmente aconteceu com ele. Mas há magia no ar. Talvez ela esteja no espírito de solidariedade que atinge a maioria das pessoas nesta data - mesmo que seja temporário. Bem, antes uma solidariedade temporária a nenhuma solidariedade!
Eu gosto do natal. Nunca mais ele será o mesmo. Nunca mais terei meus pais, meu sobrinho e mais uma porção de pessoas que não estão mais por aqui. No ano passado, minha mãe estava em coma no natal, e se foi na noite de ano novo. É claro que eu não posso dizer que as festas de fim de ano terão a mesma alegria para mim! Mas terei sempre as boas lembranças, que nestas datas, sempre chegam com muito mais força. A magia modificou-se, está irremediavelmente rachada; mas ela ainda existe.
Hoje, o natal para mim é isto: uma data para lembrar de coisas boas.
Desejo a Todos do Recanto um Feliz Natal e um ano Novo de muita saúde e Prosperidade!