Porta de bar

O processo criativo

Numa cidade conturbada

Numa mente conturbada

Em que a gíria e o erudito

Se embatem num conflito

Insano, conflito isano

Que ora abandona, ora acompanha

O vai-e-vem dos dias e das semanas

Ah! A mente não consegue produzir o criativo

Tornando-se então

O retrocesso criativo

Retratando o corriqueiro e o sem sentido

Da bagunça que é aqui

Caco, caco de vidro

Caos e o desperdício

Litros de gordura que fritam pastéis e coxinhas

Fazem depois alguns borbulhos na barriga

Jornais contando besteiras

Calçadas e pernas

Despedaçadas e inteiras

Doutores e camelôs

Existem os altos e os baixos

Ignorantes e sábios

Smirnoffs e bohemias

Café ou chá de cidreira

Magos, góticos, anônimos

Esquizofrênicos e idosos

Eles vêm até mim

Coincidências? Não sei

Acredito que sim

O ruído também é informação

E aos ouvidos mais sensíveis

Se faz música, assim...

E quem acostuma com a cidade

Quem vive dentre as pedras

Desde a mais terna idade

Não consegue sair daqui

Ah! sente falta das buzinas incessantes

Caminhões, ônibus, retirantes

Do tropeçar em qualquer calçada

Segurança, polícia, guarda

Cara feia, bonita, depravada

Crianças, grávidas, empregadas

Toda essa gente suada

Dividindo o mesmo espaço

Na quente condução pra casa

-quilometros a fio-

Não que seja bom ou ruim

Não! É que estamos acostumados

Ao cecê, bafo e peido

Rexona, avanço, água de cheiro

Assunto de novela, depressão,

Dor de cotovelo

Olho gordo, verde, castanho

Traços de um povo estranho

Que entra pelo meu corpo

E faz moradia em mim

Eu sou o povo e o povo é maioria de mim

- mas só na superficialidade -

Porque de valores o povo não abre mão

Há os que não saem dos bairros

Em São Paulo não há morro

Há favelas em depressões

Mesmo que na periférica

Que é a cidade inteira

O povo se movimenta

Como notas musicais

Em nem se dão conta

(Desculpa, perco o foco, é tanta falta de informação)

Queria eu ser eu

A cidade o cenário

E a mente o canal

Mas não é nada disso

No último andar do edifício

Eu me edifico

O povo passa

passa

passa

Não sei se fico

Acho que vou

- desculpe, mas não temos bolinho de queijo -

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 23/04/2007
Código do texto: T461067