Sobre sonhos e amor (es)
Tudo é assustador, tudo ameça, todas ameaçam. Tudo, todos, o tempo inteiro. Quando Michel diz que é saudável por-se no lugar do outro, quase finjo que entendo.
Deveríamos dar mais atenção quando Bial diz que não devemos fazer planos vitalícios com alguém. Todo mundo adora deixar-se envolver por uma bela história de amor impossível, mas no fundo, o que todo mundo quer é segurança e alguém para combinar a hora de jogar o lixo fora. O que mais tem-se discutido é a visão de amor romântico que nos é imposta todos os dias. A aparente modernização das ideias não vem seguida de inovadoras de comentários em festas de família em que uma mulher que tenha mais de trinta e não seja casada ou tenha filhos não seja chamada de titia e mal amada. Haverá o dia em que uma mulher vai poder ser INDEPENDENTE sem ter que se preocupar de estar faltando em casa, de ser neurótica com o seu corpo e achar que vai ser trocada por uma mais jovem ou por uma dessas dançarinas gostosas de TV?
Todos querem a felicidade, se sentir querido, cuidado... o mundo é maior que o que nós vemos pelas janelas do ônibus. Os nossos sonhos são mais imprevisíveis que a previsibilidade que nós descreve os dicionários. Talvez algumas leituras de Freud tenham me feito enxergar a vida como infinita barbárie onde todos nós animais, estejamos famintos por um pedaço de carne. E se o mundo for mesmo só sexo, e não amor? E se o amor for só uma parcela menor do todo de doença que é vida? Um resfriado...
Não é pessimismo procurar enxergar as coisas de outro jeito. O mais doloroso da vida é a sua efemeridade. Assim como o tesão que não dura o tempo todo, os sentimentos também mudam, são transferidos. Como é doloroso saber que a gente não pode decidir sobre o nosso destino, pelo que as pessoas vão sentir pela gente amanhã, ou o que vamos sentir pelas pessoas amanhã. Se recorrer à horóscopo e dicas de como ser uma mulher bem sucedida e revistinhas de auto ajuda do tipo: "Não deixe o ciúme acabar com o seu relacionamento" fossem tão inúteis, não haveria tanta procura. Vai ver a lei da oferta e procura esteja mais em alta que nunca. Talvez Freud esteja correto. Por ora, vou curtir o meu momento Kafka, mesclando com umas boas doses de Baudelaire e Bukowski. Nos dias bons, um Nando Reis, quem sabe. Os bêbados, não há dúvida, em toda sua podridão, eram felizes. Talvez mais que nós, tolos e doentes, sóbrios, mas embriagados de amor.