Sobre o tudo e o nada, a ciência e meu caos
Eis a mente da garota do subúrbio, pobre, mas não passa fome. Feia, mas não das piores...
Eis a minha vida, o meu tempo e a minha história. Ou seria estória? Seria eu um conto de fadas? Minha vida seria um livrinho paradidático onde eu seria a burrinha falante que no fim das contas descobre a importância da moral e dos bons costumes? Seria eu uma ilusão? Uma mera reprodução digital de produzida por extraterrestres?
Não importa. No fim das contas nada importa mesmo. Daqui à pouco morrerei como todas as outras, belas e feias, nos uniremos a poeira cósmica para, quem sabe, finalmente nos tornarmos estrelas, ou prostitutas... Oh, querido Pã, tende misericórdia dos meus átomos.
Mas hoje o dia é eterno, a vida é infinita até eu decidir que não mais será. Estou sozinha dizendo ao mundo que se dane, porque eu estou aqui só para me divertir, estou aqui para matar e morrer e não há nada de errado nisso.
Quando eu era uma menininha inocente, eles me sentaram em uma cadeirinha de bebê e enfiaram em minha goela todas as mais podres ideias, todos os mais infames preconceitos, e eu os engoli sem mastigar. Quando enfim cresci, me jogaram fora, e o mundo ensinou-me ferozmente que não existe justiça e que na verdade o sol não nasce para a maioria de nós.
Não existe luz no fim do túnel. Estamos todos perdidos.
Os santos e pastores, os estupradores e assassinos, as crianças bondosas e os velhos rabugentos. Somos todos um só bocado de poeira cósmica. Somos uma partícula de nada no universo.
Por isso decidi que os humanos não valem a dor de amá-los. Comecei falando de mim e agora penso neles. Mas como ignorá-los? preciso deles a todo instante, dos seus amores e de suas festas, preciso de suas piadas sujas para sorrir, dos seus debates fervorosos para me sentir esperta e de seus papos furados no fim da tarde para não enlouquecer de vez.
Vez ou outra eles me dão um dia feliz, um sorriso largo, um orgasmo, uma adrenalina qualquer. Não são de todo inúteis em meu ciclo melancólico.
Humanos, vida, morte e poeira. Coisas que me doem por serem tão efêmeras enquanto eu sou eterna.
Tenho tempo demais para enlouquecer, penso nisso ás vezes. Vou pensar sobre isso novamente antes de dormir.
Vou brincar com isso novamente antes de morrer.