As religiões tradicionais estão se fortalecendo mais e mais dentro dos ambientes escolares a elas vinculados, da mesma forma que estão ganhando espaços mais organizados em outros ambientes infanto-juvenis outras correntes ideológicas, inclusive irreligiosas, vinculadas ao ateísmo, hedonismo, niilismo, anarquismo, dadaísmo, pessimismo etc, ainda que com outros nomes e repaginações pós-modernizantes.
Quanto ao ensino religioso pedagógico, a questão, como sempre, é que o que se ensina em cada escola, a depender de seu comprometimento hierológico, é uma certa religião estabelecida e as verdades por ela aceitas ou construídas interpretativamente.
Uma escola ecumenicista, por outro lado, não poderia ensinar todos os milhares e milhares de religiões do mundo (fora as seitas que também se acham detentoras da palavra de Deus), todas elas carregadas de suas verdades ideologizadas e mitificadas, além das exegeses literalistas de milenares textos sagrados, hoje mais destrutivas do que construtivas para o novo mundo.
Que fazer então? Logicamente, ensinar apenas verdades comuns a todas, mas isso seria difícil de aferir consensualmente. É uma grande equação a ser fechada no futuro infinito.
O próprio Espiritismo, como doutrina universalista, também não deveria ser ensinado, inclusive porque há ainda contra ele um forte preconceito. Contudo, os postulados que ele defende são universais, quais sejam: Deus, imortalidade da alma, comunicabilidade dos espíritos, pluralidade dos mundos existentes e reencarnação. E esses postulados estão espalhados entre várias e várias religiões e culturas da Terra, em todas as épocas da humanidade, ainda que com seus véus mitológicos e de má interpretação (não só pelas religiões, mas também pelas ciências e filosofias). Por exemplo, a noção de que há um Deus como inteligência suprema e causa primária de todas as coisas é unanimidade nas consciências e nas inconsciências que habitam as várias biodimensões da Terra; a comunicabilidade dos espíritos, ou mediunidade, marca preponderantemente as culturas religiosas africanas e indígenas em geral; a reencarnação é aceita no gigante Hinduísmo; a imortalidade da alma é marca de todas as tradições cristãs. Ao Espiritismo coube resumir todas essas verdades eternas e universais numa só doutrina, dando-lhes um tratamento filosófico-científico, tirando-lhes os véus, tirando-lhes dos ambientes sagrados e religiosos, ainda que para uma finalidade maior, que é contribuir cognitivamente para a reforma íntima e para a inteligência espiritual das pessoas. E por que essa doutrina conseguiu fazer essa grande síntese em tão curto espaço de tempo, em tão poucos livros e sem grandes dificuldades de pesquisa e compilação? Simplesmente, porque se trata de uma doutrina de matriz inteiramente espiritual superior. Foram espíritos, inclusive de figuras que foram conhecidas aqui na Terra tempos atrás, representando várias religiões, que se reuniram para ditar, a vários médiuns, os cinco livros básicos que formaram o Espiritismo, mais justamente chamado de Doutrina dos Espíritos, da qual o pedagogo e cientista Allan Kardec foi apenas o sistematizador, facilitador, codificador e arrumador textual.
Mas, reiterando, os postulados universais reunidos no Espiritismo não pertencem ao Espiritismo, mas estão aí, ubiquamente, à disposição cognitiva de toda a Humanidade, podendo ser estudados a partir, inclusive, dos ambientes escolares e acadêmicos. Devem ser ensinados pela linguagem das ciências e das filosofias puras, sem partidarismos ideológicos, neutramente. Poderão, a partir do prisma de racionalidade que lhes conferiu o Espiritismo,  agradar muitas famílias e alunos não-espíritas que creem, contudo, no geral desses postulados. Sua abordagem em bases científicas e filosóficas poderá completar o entendimento de muitos outros intelectuais religiosos e irreligiosos mundo afora, dando-lhes um sentido mais completo e satisfatório à própria vida.  [Quando Allan Kardec, o codificador da Doutrina dos Espíritos, disse que o Espiritismo não será a religião do futuro, mas, sim, o futuro das religiões, certamente ele estava se referindo à ecumenização dos seus postulados básicos e da moral crística, restaurada nessa doutrina, que é tida como o Cristianismo Redivivo e também como a Terceira Revelação.]

Desde já, acreditamos que esses postulados vão ser a tábua de salvação de milhões de pessoas, agora, frente ao quadro de incertezas que assola todos os ambientes escolares e extraescolares, frente aos desafios comportamentais no processo da transição planetária.
Está na hora, pois, de a intelligentsia espírita promover uma revolução no saber estabelecido nos ambientes escolares, a fim de preparar as crianças e os adolescentes para o futuro emergente naturalmente transcendentalizador que já bate à nossa porta.
A pedagogia espírita deve desespiritistizar as chamadas verdades espíritas e levá-las para um cotejo e uma integração expansiva com as verdades cognitivas estabelecidas e consagradas pelo establishment dos saberes oficiais ensinados nas escolas, via ciências e via religiões.
Já é o momento de se iniciar uma extensão aprofundadora da matéria denominada "Estudos Interdisciplinares", reencontrando o elo perdido entre ciência e espiritualidade, ampliando o círculo positivista das "matérias" para o círculo universalista do ensinamento dos magísteres espirituais superiores. As outras disciplinas todas têm seu quê de profundidade e quanticidade (para não dizer espiritualidade), e isso pode ser ensinado homeopaticamente, das beiradas para o centro, nas entrelinhas dos currículos oficiais impostos, com amparo, inclusive, no instituto da liberdade de cátedra.
Com esse salto de qualidade cognitivo generalizado, a vida comum e pragmática aqui na Crosta passará a ser vista com outros olhos, com olhos mais amplos, o que tornará os problemas do ser, do destino e da dor muito mais degustáveis e relativamente diminuídos. Não haverá mais a necessidade de absorção das fugientes drogas da alienação insensibilizante e, consequentemente, desumanizante, tão traficada na atual contemporaneidade. Depois de encerebradas principalmente a lei do livre-arbítrio (que vai além da simples noção de liberdade individual), e a lei de causa e efeito (que vai além da termodinâmica de Isaac Newton), combinadas com a lei do amor e a lei do perdão, e depois de treinados e estagiados principalmente na educação moral (a que Kardec se refere como a base da educação infanto-juvenil do futuro),  de massa de manobra das ideologias dominantes, os jovens passarão a ser indivíduos autorresponsáveis e manobradores dos seus próprios destinos. Terão a consciência de subordinação íntima, apenas, às leis divinas e naturais, que, por sua vez, abarcam, de forma socialmente equilibrada e consensual, as leis humanas imperantes, enquanto vigentes. [Contudo, superconscientes das realidades cósmicas reduzidas no Evangelho puro do Cristianismo Redivivo, eles, certamente, não aceitarão ser expropriados do necessário espírito de criticidade reformadora, aperfeiçoadora e ajustadora das regras do status quo reinante, em relação aos ditames naturais do novo mundo de relações que se avizinha.]

Por viés oposto, todas as matérias escolares, reinantes e ministradas tranquilamente a partir das orientações e determinações cupulares do status quo cognitivo dominante e tradicional, precisam ir para os centros espíritas, que são escolas psicagógicas paralelas, a fim de cointegrarem a programação dos seus departamentos de infância e juventude. No ambiente espírita tais matérias precisam ser reconceituadas à luz dos referidos postulados.
Num caminho ou em outro, a ideia é começar a construção de uma transdisciplinaridade não só horizontal e rasa, mas também vertical profunda, holística, transcendental, totalizante. No mínimo, poderá espicaçar mais a curiosidade dos alunos e o seu gosto pelos estudos, o que anda meio em baixa, inclusive por causa da emergente epidêmica demência digital, que tende a afetar crianças e jovens de todo o mundo em um futuro brevíssimo.

Não se trata, pois, de ensinar sobre o Espiritismo, o que é mais papel dos espíritas, em ambientes próprios e específicos, extraescolares, nem se trata também de se ensinar religião ou religiosidade, mas, sim, de extrair do Espiritismo as verdades-postulados que ele defende, e que são verdades naturais e universais, e mesclá-las, integrá-las com as verdades das ciências, filosofias e religiões estabelecidas, reformando e ampliando o leque de possibilidades destas como veiculadoras das verdades gerais e maiores da vida, rumo ao futuro emergente.
Muito certamente daqui a uns cinquenta anos, tudo o que já é pregado pela Doutrina dos Espíritos serão matérias correntes e assentes em todas as salas de aulas, em função, inclusive, da maior experienciabilidade e demonstratividade laboratorial de tudo o que hoje depende apenas da fé raciocinada.


Uma possível ideia inicial é os pedagogos espíritas montarem inicialmente uma enciclopédia reconceitualizadora dos elementos das disciplinas escolares, ampliando-os à luz do Espiritismo, ou dar uma repaginada e atualização n’ alguma eventualmente já existente. E tudo isso deve ser teorizado, mas também aplicado em ambientes práticos, sob a supervisão dos mestres (naquilo que puder ser praticável). [O próprio ambiente escolar seria uma seara de prática e estágio de um psico- cogno- socio- e holiconstrutivismo caritativo e solidário, sempre visando ao crescimento integral. Aplicar a teoria espírita em seu aspecto moral à parte estrutural da própria instituição de ensino e a todos os ambientes extra muros é útil e educativo, é parte essencial do processo cognitivo. Como práticas pedagógicas, mutirões de alunos deverão se formar constantemente, para lavar, capinar, plantar, cozinhar, visitar necessitados, fazer turismo hospitalar, excursionar em leprosários, levar palavras de conforto e esperança em presídios e velórios, distribuir sopa e agasalho para sem-tetos, enfim interrelacionar-se em geral com todos os que precisam de alguma mãozinha, a fim de vivenciar os aprendizados teorizados, tudo sempre sob o multienfoque da supertransdisciplinaridade. Frisemos que o principal laboratório de testes dos ensinamentos morais da vida, com base na ótica espírita, é a própria vida de relações.]
 
Acreditamos que para evitar choques cognitivos junto ao alunato e a seus pais, será necessário um escalonamento dos novos enfoques, a fim de preparar a gurizada e a rapaziada para esse "admirável conhecimento novo" (para a grande maioria deles). Do contrário, num primeiro momento eles não vão aceitar facilmente, e muitos ainda vão provocar conflitos (talvez orquestrados por pais e intelectuais conservadores) e vão, quem sabe, até mesmo provocar perseguições contra os professores. Mas, que os alunos estão precisando despertar para a vida a partir dessa comunhão de saberes mundanais com saberes espíritas (que são os saberes sobre os fenômenos da vida em seu aspecto positivista e em seu aspecto metafísico ou profundo), acreditamos que não resta dúvida.
A ideia, pois, é se semear, desde já, uma tentativa de universalização das verdades espíritas a partir dos ambientes escolares, ainda que sua germinação só venha a ocorrer, quem sabe, daqui a uns vinte ou mais anos, quando o tempo transicional estiver mais favorável e o solo da Nova Terra, mais fecundo.
E aí? Estais com a vossa semente na mão?

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 07/12/2013
Reeditado em 02/01/2014
Código do texto: T4602510
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