Aquilo Que Escrevo
É loucura, de tempos em tempos, parar para pensar sobre os motivos, razões e inspirações que nos levam a fazer as coisas.
Lembro, no começo, de gostar muito de criar personagens e colocá-las em situações que julgava épicas, apenas para sentir o gosto de participar da criação de algo maior.
Com o tempo, minhas personagens foram me desapontando. Elas eram muito fortes, muito determinadas e com defeitos muito acentuados. Pensei em desistir delas, mas quando olhei de novo, elas haviam mudado.
Seus defeitos eram subjetivos, começaram a gostar do fracasso pela experiência que isso poderia lhes trazer, tornaram-se menos humanos, encontraram com o sobrenatural e se apaixonaram pelo desconhecido.
Lembro, no entanto, que esse talvez tenha sido o processo de adaptação mais doloroso que minha escrita passou. A fantasia e o simplório morriam. Um senso auto-crítico tão forte que dava nojo de olhar pro texto que tinha acabado de escrever. Acho que machuquei a estima de minhas personagens assim como o mundo machucou a minha.
Mas, ao contrário do que deveria ser, eu encarei o mundo de forma mais caridosa. Percebi que a Rosa só machuca porque ela tem medo de ser machucada. Eram todos apenas pessoas frágeis que se escondiam numa camada extremamente grossa de futilidades e maldades.
À medida que decidi querer ajudar o mundo a se libertar das máscaras, minhas personagens tornavam-se mais verdadeiras. E com "Verdadeiras" quero dizer "Um tanto doentias".
No processo, elas eram perturbadas, cheias de dúvidas, cheias de amargura, tristeza e caos. Era como se eu conseguisse dar a cada uma delas o seu inferno próprio em cada texto.
A redescoberta dos bons valores e dos prazeres tiveram dois resultados opostos. Foi aí que passei a realmente me sentir parte e ter carinho pelas personagens.
Por um lado, as personagens eram mais capazes de se manter estáveis. Por outro lado, os inimigos agora sabiam atacar seus medos e desejos bizarros.
A questão é, todos temos desejos bizarros, por que não usá-los como adereços aos mais diversos contextos?
Um junção estranha de Amor e Dor, Esperança e Sadismo, Fantasia e Catástrofe. Era assim que poderia definir meus textos agora. É necessário explorar os dois lados de uma situação sem encarar um deles como melhor que o outro. Há quem ame a luz, há quem ame a escuridão, então por que fazer essa distinção de quem é melhor?
Minhas personagens agora eram cheias de bons ideais que, para serem compreendidos, precisamos deixar de lado nossos conceitos e abrir nossas mentes.
Fiz assassinos impiedosos amigos de garotinhas, Demônios Ancestrais com senso de justiça, Anjos com dúvidas sobre o bem e o mal.
Aos poucos fui percebendo que era muito mais difícil criar uma história. Eram muitas exigências, e a maior delas foi "Seja a história".
Eu já fui o assassino e a garotinha, o Demônio e o Bandido, o Anjo e a Prostituta, o Caçador e a Caça, o Salvador e o Destruidor; e, acredite em mim, entrar nessas personagens e deixá-las entrar em você exige uma "força mental" absurda.
Aprendi muito com minhas criações. Hoje elas criam vida logo no começo do texto. Tomam o rumo que querem e eu apenas as ajudo a se expressar corretamente. Um exemplo de ajuda? Colocar uma música que faça o gosto musical de uma das personagens, me isolar um pouco da sociedade para dar atenção ao que elas têm para me falar, abrir mão de um conceito ou outro para poder entender-lhes melhor.
Não sei mais se são frutos de uma boa melhora no meu caráter, ou eu sou fruto dessa evolução de minhas criações.
Algumas pessoas considerariam minhas obras como "Doentias"... E talvez sejam! O problema é que nem todos conseguem abrir a "Caixa de Pandora" que existe na própria mente e levar isso na boa. É muito interessante entender os dois lados de uma pessoa, mas muito perigoso.
Nesse exato momento, passo por uma época artística de interpretação. Eu interpreto o mundo do jeito que ele não é, mas poderia ser. Não escrevo muito sobre isso, gosto de encher a cabeça de ideias antes de começar algo grande.
Aliás, peço perdão, me distraí tanto com o assunto que esqueci de dizer quais são minhas inspirações... Ou será que não? Enfim, agora direi de forma explícita: Meu Ego oculto e o Mundo. A forma como as coisas podem ser boas ou ruins, ou simplesmente não serem nem boas nem ruins. Encontrar coisas que podem ter múltiplas interpretações e deixar ao leitor a função de encontrar a reflexão que mais lhe agrada. Fazer textos que lhe permitem refletir até que você encontre o SEU final.
No final das contas, eu criei um mundo gigantesco com cada personagem de meus textos. Meu mundo tem uma história antiga, possui tudo aqui que qualquer mundo poderia ter... Tem até uma bíblia própria que se perdeu no tempo!
Foi criando um mundo com múltiplas interpretações que percebi que podemos fazer o mesmo com o mundo no qual vivemos. O que é bom. Me sinto vivendo cada dia num mundo diferente. Infinitas possibilidades num tempo tão (i)limitado.
Então meu maior conselho é que EXPLOREM! Explorem seu "eu" interior, explorem as interpretações que o mundo e as pessoas podem ter! Não se restrinjam a seus conceitos já formados! Joguem todos eles pela janela apenas para depois reencontrá-los.
Explorem o (seu) Mundo.