O SER EXISTENCIALISTA
Penso que erraram os grandes
imperativistas,
ao tratarem do “Ser” e das coisas
onde ele está inserido,
isso se dá porque,
em seus excelsos discursos,
preteriram a análise
da abnormidade
que surgiu em misteriosa
singularidade
no Cosmo,
e concentraram-se tão somente
em seus estudos
sobre o “Ser”,
e o que dele emerge
ou o que nele adentra;
na verdade,
tudo que há concretamente
passou a nos servir,
abstratamente,
de alguma forma,
compondo toda a cena
ao modo único
que as percebemos
com nossas egolatrias
sencientes e inalienáveis,
assim, não mais há dissociabilidade
entre abnormal e as coisas
em que ele está inserido,
pois estas se condenam a seus
modos de ver
e a seus poderes de inaugurações
cernientes;
as raízes de nossas existências
são muito mais profundas,
e delas é que surgem
as árvores,
– avaliadas nas exaustivas
reflexões
daqueles que se propuseram
a este estudo –,
com suas magníficas
imagens
postas num grandioso
e vil palco
a que chamamos
de vida.
Bem sei que podereis dizer
que sou louco
e que não me entendeis,
e eu compreendo isso
por uma simples questão:
de nossos galhos e folhas
a alcançaremos céus figurados,
não podemos contemplar
as raízes acidentais,
ou sequer supor
um antes delas
ou, ainda,
um depois da morte
de nossos frondosos egos,
a não ser que também,
de alguma forma,
criemos algo para nos servir,
como os deuses
dos paraísos idílicos
onde nos imaginamos poder morar
algum dia,
ou os demônios dos infernos
entenebrecidos
onde nos podemos ser
castigados por pecados
que não podem haver,
exteriorizados,
à grande e indecifrável
singularidade que
nos gerou.
Eu poderia dizer
que somos incautos,
despercebidos
ou descautelosos,
diante uma visão mais honesta
de nós mesmos;
poderia dizer que usamos,
e que nos atemos,
a um poder de escolha
– que só existe em nossas folhas
a bailarem em nossos ares
inaugurados, –
para tentar nos explicar
posturas quaisquer,
de acertos ou de erros,
de ilustres enlevos
ou de abissais quedas;
poderia dizer que fomos,
– e até creio nisso,
discordando tão somente
da forma como ocorreu,
do modo como
nos ligamos a elas,
e das consequências de tal
singularidade ocorrida – ,
jogados num mundo
de coisas,
preterindo a visão
do apagamento violado,
que um dia voltará a haver
independente das abstrações
neandertais;
poderia continuar mostrando,
exaustivamente,
como tentamos nos livrar,
individualmente,
do que chamamos de “mal”,
sobretudo quando usamos
o verbum volat,
com o qual regozijamos
com nossos “eus”
nossos enredos, sonhos,
idolatrias, glorificações,
entre uma infinidade
de inaugurações
que vivemos a nos fabricar
de modo singelo,
enquanto defecamos
todo tipo de misérias verborrágicas
e de ações mortais,
– que também nos pertencem–,
a nossos dissidentes
irmãos de abnormidade;
mas estou cansado
e com vontade de me desterrar
definitivamente,
– como se me fosse possível, –
ao deserto silente;
por isso,
vou dizer apenas
o que penso que somos:
tão somente células
de uma mesma singularidade,
estranha e indecifrável
por natureza de condenação
nos limites da infinda barreira
dentro da qual
não mais podemos ver
concretudes do apagamento
de antes de nossos
adventos.
sem que inauguremos abstrações
a nossos modos de ver
e de perceber;
e é disso que tenho dito
sem que podeis entendeis.
Péricles Alves de Oliveira