A ÁRVORE DE JUDAS

O dono da farmácia
conta seu lucro
ao fim do dia,
antes de ir
para seu lar ideal,
em seu carro ideal,
pegar sua família ideal,
e levar para orar
na igreja a seu deus
ideal;

o dono do posto
de gasolina
e o dono do banco
na esquina,
que são irmãos do dono
da farmácia,
costumam seguir
o mesmo caminho
ideal;

longiquamente,
outros irmãos de todas
as partes
seguem suas rotinas
a viverem a vida
de seus abençoados modos
ideais,

sempre tomando cuidado
para ficarem afastados
dos moribundos e dos pecadores
que moram nas vielas
obscuras
das mesmas cidades

onde são depositados,
sob as sombras dos concretos
e dos abstratos erguidos
pelos senhores ideais,
a lepra,
o medo,
o horror,
a agonia,
a escória
e a condenação;

assistindo a toda a cena,
um cão ladra sorrindo
do inferno,
e um verdadeiro Deus
chora em sua
janela.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 27/11/2013
Reeditado em 28/11/2013
Código do texto: T4589390
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