Memórias Póstumas

Hoje de manhã acordei e senti o privilégio de olhar para o nada, que é tudo que hoje resta em seu lugar. O desespero me atingiu, e as lágrimas dos últimos dias tornaram em retornar como um pesadelo difícil de contornar. Estou sem chão. Nada mais importa. Eu quero sentir calmamente essa dor que mata minha psique e me torna cada dia mais rígida.

Aliás, sempre pensei que não haveria mais falhas na armadura que criei. Mas você me apareceu e mostrou o quanto estava errada. O "ideal" havia me surgido, as mágoas passadas se afogaram num mar de risos bobos que tinha em minha face nas longas horas de conversa com o computador no colo. Todos os pedidos para que eu me cuidasse, que já eram acatados, ganharam mais uma significação: tudo que ele me pede é para que eu encontre a paz. Mesmo as dificuldades e novas responsabilidades não pararam o que tinha o potencial de um amor.

Tudo tão perfeito que me veio o medo, que você riu e disse ser impressão minha. E então, finalmente, eu tinha razão, e tudo aconteceu, na mesma velocidade em que você dominou minha mente.

Cada acontecimento, cada lembrança de tudo, cada mágoa colocada em cheque em cima da mesa, derrubando o que havia acontecido, como se não fosse mais relevante.

E lembrar que já fomos um para o outro o consolo nas horas difíceis, e hoje não resta mais nada.

Furtaram de nós a esperança de tudo dar certo, tiraram o que poderia nos fazer falta. Como num golpe de misericórdia, nos forçaram a enterrar tudo, a transformar o que passou em memórias póstumas. Me tiraram do conforto, me colocaram na frente do campo de batalha, me mataram, sem ao menos a chance de pedir socorro.

Jamais te culpei por qualquer erro, pelo contrário te aceitei com todos eles. Imaginei que poderíamos superar tudo juntos. Triste engano.

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Enfim gente, corri das poesias em e fiz essa carta. Desabafo, talvez :)