Pesadelo

No recanto da noite brotam breves fagulhas, extintas com o bafo acalorado do Verão.

Sentado no chão de um quarto escuro, de pernas cruzadas, costas semi-arqueadas, de olhos fixos no chão, descansa o meu corpo, silenciosamente. O vento permanece imóvel, lançando um desconfortável silêncio por toda a cidade.

Espíritos inquietos dançam ao meu redor, perturbando o amargo sossego que me força a abandonar a divisão.

No corredor, um aglomerado de imagens e palavras voam bruscamente sem trajectória alguma. Por entre inúmeras visões que perturbam o âmbito do meu pensamento, vejo sorrisos sem caras, oiço gritos e murmúrios débeis, que se estilhaçam num contingente infinito, empurrando-me para os escombros dos meus sonhos mais sombrios.

Encontro-me numa outra sala onde nunca antes estive. Descubro uma paz inquietadora que em breve seria quebrada por mim mesmo. A natureza do medo rodeia estas quatro paredes que me parecem mais pequenas.

Corro sem saber para onde vou. Fujo do medo, do desespero, da aflição... da noite. A pulsação aumenta num ritmo tremendo, sinto o coração quase a sair-me do peito. Os gritos perseguem-me, tornando-se cada vez mais insuportáveis. Eu corro ainda mais depressa. A cada segundo que passa, a imagem modifica-se num ciclo exuberante. Tudo se conjuga no mesmo espaço de tempo e eu... acordo.

Todo aquele desespero desaparece, como se da minha imaginação se tratasse, dando lugar a uma sensação apaziguadora e a um desconforto em breve esquecido.

Hugo Ricardo
Enviado por Hugo Ricardo em 23/11/2013
Reeditado em 28/11/2019
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