Espelho, espelho meu, há alguém mais anormal do que você?
Como qualquer pessoa que pela primeira vez se olha no espelho e percebe algo estranho, algo de errado, eu não pude deixar de observar por uns bons 10 minutos minha imagem nele refletida. Olhos, boca, orelhas, ah! Os dentes! Que situação burlesca! Pela primeira vez o mundo caiu sobre minhas costas de tal forma que, se Deus existisse, ele estaria me observando naquele momento e pensando, “Monstrengo-filho-da-mãe! Será mesmo que ele percebeu tudo isso?”. O fato é que eu havia descoberto qualquer coisa fatídica da qual não conseguia descrever. E a sensação foi das piores. Sentia-me nauseado; tudo parecia estranho, dos pés com cabelos nos dedos, às sobrancelhas taturânicas se encontrando acima dos olhos. QUE COMPLETO ANIMAL!, pensei. O pior foi que, de certa forma, eu desacreditei em tudo. E um dos motivos da minha incredulidade niilista, foi uma súbita vontade de urinar. Aquele ser por entre as pernas magicamente ganhando vida própria, liberando um liquido processado, só complementava a curiosa aberração com a qual eu estava preso. Preso até o fim de uma pequena jornada. Preso até a ultima sorte de ruga. Lavei o rosto, limpei os dentes e olhei uma ultima vez, na esperança de acontecer qualquer coisa, mas não havia como libertar-me de tal situação: A vontade de CAGAR surgiu da mais profunda das vísceras!