Como um velho
Como um velho que perdeu tudo. O que não perdeu, nunca teve.
Não necessariamente velho, mas anos arduamente vividos. Que lhe traziam uns setenta anos ou mais.
Perdeu mulher, perdeu carro, perdeu a mãe, perdeu móveis, perdeu dignidade. Pra não dizer que não perdeu a casa, hipotecou. Não teve filhos, não teve pai, irmãos, não teve nem se quer amor. Se teve, perdeu.
O que restou-lhe foi um copo. Que diariamente o preenchia com qualquer coisa que fosse composta de álcool. Não se achara digno de viver em lucidez. Ou era apenas a desculpa que costumava dar quando lhe diziam que na verdade era covarde, frouxo.
E se não perdesse tudo, beberia? Sim.
Em algum momento da vida, perdeu sua alma, seu coração, suas lágrimas. Fato que não permitira ao velho, não ter nada mais que um copo. e solidão. Porém não é correto dizer que ele tem a solidão, porque analisando o caso, na verdade, é a solidão que o possui.
Como um velho que perdeu tudo.
Eu, meu copo.
Bebendo, como um velho que perdeu tudo.
Vivendo, como um velho que perdeu tudo.
Perdendo tudo, como um velho que já não tem mais nada.