Paralisia
Cada vértebra do meu corpo é ressentimento
E há anos em que eu me pergunto como consigo me mover
Do pé ante pé , eu atrevesso a noite
Com a dor de existir nos ossos
Resistindo aos dizeres amargos da tv
Persistindo no pretérito imperfeito em que conjuguei meus verbos
Eu me contorco no contorno de meu ser
Cada nervo de meu corpo é saudade
Com a dor do passado fluído nas veias
Com o passado
que nunca existiu na vida
Mas que existe em mim
O passado, sonho algodao doce
Da crianca lambuzada dos parques de diversão
O passado sonho pisado antes de anoitecer
Meus nervos enrolam e distorcem
Querem viver a vida de que não pertencem
Enquanto eu permaneço em coma a respirar
Cada músculo de meu corpo eh exaustão
é tomar café com leite
Manhã pós manhã
Em um eterno estado de sonambulismo
Respirar não basta
Viver não basta
A vida foi um sonho distante que esqueci de sonhar
Sobrou-me somente um punhado de soma
Mas eu escrevo
E ao escrever eu existo
Dilato-me e me derramo
Tranbordo por todas a bordas
Ganho o corpo que no corpo não há
Cada palavra minha é vida
é entidade, é orixá
Um Deus que não cabe em religião alguma
E desce sobre mim, e incorpora
E faz da minha dor a minha força
É a escrita e somente a escrita
Que me permite ficar de pé e respirar
E nao me dissispar com vento em um dia qualquer