NOSSA VIDA!
Nossa vida, nosso tempo, nossas habilidades! Tudo isso trocamos pelo quê? Por dinheiro! A realidade é essa, não há como negar. É isso que ele representa: o tanto de nós que deixamos de ser para realizar algo necessário para se manter! Claro, essa lógica perversa é contornada quando alguém pratica aquilo que faria de graça, aquilo que nutriria plenamente a alma ao dar total sentimento de paz, realização e cumprimento do verdadeiro papel existencial nesse mundo transitório! Mas, convenhamos, isso é para poucos, e, mesmo para esses, fazer o que gostam exige que façam o que não gostam, abrindo mão de escolher o que fazer com o tempo, até porque ninguém tem pleno controle sobre o contexto que suas escolhas inexoravelmente trazem. Basta ver o rol gigantesco de renúncias que atletas de alto nível exercem diariamente para viver seu sonho.
A essência da felicidade está na escolha do que fazer, e não no retorno material do que é feito, e essa escolha quase nunca é simples, linear e suave, mas permeada de renúncias, pois toda escolha é uma renúncia de todo o resto que poderia ter feito. Quando se fala “pague o preço do sucesso”, se está dizendo, além da superação de dificuldades, para aceitar o fato de que você terá que abrir mão de muitas coisas para ser feliz. A felicidade, então, não está na ausência de sacrifícios, no pleno domínio dos afazeres, no “oba oba” de uma escolha livre e consciente que, a despeito de realizada por diletantismo, gera renda. O segredo, pois, não está na ausência de renúncias, mas no bem maior almejado: quase sempre a felicidade está no topo após a dor, a angústia e a dúvida da escalada. Tendo um propósito elevado, qual seja, nutrir a alma – uma análise que cabe a cada indivíduo realizar –, toda disciplina encontra lugar no espaço/tempo. É tudo uma questão de perspectiva ou, como diria Einstein, “tudo é relativo”.
Como se vê, a felicidade, esse sentimento, essa emoção, é totalmente vinculada à razão, pois exige o bem discernir prioridades e finalidades, o bem refletir sobre a vida, seu lugar no mundo e sobre o que de fato importa. E é aí que mora um dos grandes empecilhos da humanidade em sua busca pela felicidade: o ser humano, embora um ser racional, baseia a quase totalidade de suas ações em termos emocionais. Muitas vezes a inveja, esse sentimento inferior que corrói a sociedade, serve de base a tomadas de decisões fundamentais de vida, de rota de vida, simplesmente porque o ser humano insiste em tomar os parâmetros de sua felicidade em termos comparativos, e não baseado em seus próprios elementos. Assim, alienado, relativiza sua vida ao olhar para o lado, criando necessidades artificiais, frustrações, corolário de um mecanismo comparativo mórbido. Junte esse limitador à arraigada prática de atrelar felicidade com riqueza e se começa a entender o quão ingente é a busca pela felicidade. Alguém podia ser feliz com pouco, mas, instigado por uma cultura do ter, do amealhar, do ostentar, ao comparar o que tem com o que poderia ter, literalmente cria infelicidade e a única forma de aplacar essa dor é se lançando freneticamente atrás do sonante, da prata.
Outra grande fonte de infelicidade, ou óbice à felicidade, é incapacidade diariamente observada que o ser humano, em sua maioria, tem de lidar com mudanças. Entende que felicidade é não ter preocupações, e com isso vive alienado ou atormentado com a potencial alteração da realidade fática ou dogmática. Como solução mágica nega o óbvio e vive em seu próprio âmbito cogitativo. Ora, a vida é uma constante mudança! Da mesma forma que a vida na Terra é o resultado fantástico de uma miríade de fatores que tinha tudo para dar errado e, por aleatoriedade ou providência divina, dá muito certo, a felicidade surfa na crista da onda, é aqueles poucos segundos de duração de um tubo, é o encontro impensável de idiossincrasias que, na diversidade, forma a unidade inexpugnável e transitória.
A vida é curta, sim, mas é sua, é minha, é nossa! Tome as rédeas de sua vida! Reflita sobre as necessidades existenciais, tenha em mente a potencialidade de cada segundo, projete-se para ver, no amanhã, o que se justifica no hoje. Ouça mais a si: por certo que entes queridos querem o melhor para ti, mas tenha em mente que é o melhor segundo os termos que eles projetaram e realizaram (ou não) para si. Não fixe metas por bases meramente competitivas, pois medalhas, holofotes e aplausos serão apenas enfeites nas cinzas de um espírito despropositado. E, sobretudo, aceite a volatilidade do universo, pois somente aceitando o caleidoscópio da vida e a normalidade do risco poderás ser livre para ver, no ambiente de possibilidades, aquela que te conforta a alma ao dar um propósito à tua vida, te fazendo feliz!