SE EU PUDESSE POR UM INSTANTE.....

Se eu pudesse por um instante, desfazia das amarras reais do presente e voava para um tempo de cores ingênuas. Teria como o guia o fio da saudade e na memória poderia encontrar entre cheiros e espaços vazios, a lembrança de um amor.

Voltava aos anos onde um colo que aquecia, naqueles tempos, onde, o que não era Paz era Alegria, nos gritos e pulos no corredor. Hora e data não importavam, era só tempo de brincar, com sentimento solto e juvenil em insistente procura, sem saber o que achar.

Numa casa larga e um vão imenso na relatividade de um tamanho indefinido, era o suficiente para em aventuras me encantar. Naquele tempo, não sentia falta de companhia, a imaginação me servia para o que quisesse ser, para onde quisesse estar. Às vezes até o cachorro sobrava, virava cavalo, leão, era o amigo e parceiro, às vezes parecia até irmão.

Volta e meia, um amparo era necessário, depois de uma queda, de um susto, mas logo ali perto, na distância onde meu grito se ouvia, minha querida avó me acudia. Era senhora simples e exata, para mim, nem matemática rebuscada, chegava tão certa no lugar. Fisicamente não é mais possível, mas na simples geografia, o coração é o seu eterno lugar. Amor, de quem na vida, ela mesma pôde amar.

Nesta escrita, na sua leitura, há boa oportunidade para o sentimento se expressar. A vida é movimento, e o hoje, no presente momento, até o passado posso visitar. Nele eu posso ver e rever as flores, no jardim de meus amores, que é eterno para colher e plantar, para sofrer e amar, mas não solitária estarei neste mundo. Muito provavelmente, se não fosse a Saudade, eu não saberia me guiar neste tão vasto universo. Esta, até parece uma máquina do tempo, ou um novelo desenovelado que liga momentos, do que é ou foi “presente”, do que está vivo e já viveu. Na verdade com a Saudade, o que já viveu ganha vida novamente, e se desabrocha no presente na vida de quem não morreu.