O PARADOXO DO ABNORMAL
“Ser ou não ser, eis a questão.” William Shakespeare
"Não, meu caro. Não há ser sem as coisas, mas elas há sem eles apagados." Thor Menkent
“Ser ou não ser, eis a questão.” William Shakespeare
"Não, meu caro. Não há ser sem as coisas, mas elas há sem eles apagados." Thor Menkent
Há um querer cintilar, entre as espectrais coisas a que nos ligamos, com a vesania da mente e com o paradoxo da palavra que me incomoda.
Nas verdade, nenhuma metafísica, fé ou qualquer outra alucinação pode ser verdadeira, além de nossas idéias de que nos sejam.
Assim, nossas projeções e visões de tudo que nos cerca, ou do que abstratamente criamos, são-me tão aterradoras que superam o último ciclo do inferno de Dante, também, logicamente, inaugurado no teatro de nossas existências inconcretas.
Não gosto de ser extensivo diante de velórios, sobretudo quando ele dá sob cintilantes brilhos de alguns de meus irmãos apagados.
O estar tenuamente no meio das coisas (entendam-se: viver entre elas, e sem elas nada ser) de Heidegger; a condição inerente que o homem tem de poder fazer escolhas sob todas as circunstâncias, apregoado por Jean Paul Sartre; o Zaratustra e outros reflexos egocêntricos de Friedrich Nietzsche espalhados com sua assumida soberbia; e aquela estorinha fabulada, contada pelo ébrio pescador, alheio aos imperadores dos verbos, no botequim que eu freqüentava, têm todos suas relevantes verdades verbalizadas, diante, logicamente, das retinas de seus emissores e das idéias que têm delas os demais abnormais que as ouviram ou leram, em concordâncias ou não, uma vez que foram inauguradas e postas por e entre outros abnormais.
De fato não me parece possível exteriorizar em regozijos, contos, invenções ou quaisquer enredos que envolvam o verbum volat, sobre nossos semelhantes e as coisas entre as quais estamos, sem que mostremos reflexos próprios e de nossos semelhantes, ou vice-versa. Ou seja: não me parece plausível um fiel olhar diante do espelho, intrínseco, sem que se veja um pouco de nossos congêneres.
Isso coloca a faustidade do lume ou a verdade do ser como absolutas em suas existências anômalas?
Se tudo reflete de nossos cernes, parece-me haver um grande paradoxo:
Se emanado nos foi algo qualquer de qualquer ser, inaugurado foi, e haverá diante dessa nova gênese a idéia de que esteja certa ou errada, de que exista ou não. Mas sendo idéia que apreendemos do feito, passaram a haver diante de nossas razões sencientes seja para viver ou para morrer entre as demais criações do desalinho. Isso nos torna deuses apócrifos, em que nos tornamos despercebidamente.
Por outro lado, se no valsar concreto das coisas que há, adquirimos, em algum momento, a condição de nada mais emitir, criar ou expurgar com nossos lumes (ao que chamo: “apagamento”), abnômalos somos e, por essa condição nata, condenados a apenas ter idéias próprias das coisas (ao que chamo: “estar na ponte” ou “na grande barreira”), sem que elas sejam como a idealizamos, e sem que deixem de existir concretamente, ausentes nossas ideias do que sejam. E aí se configura a abnormidade singular da existência.
P.S. Repetições inevitáveis no texto. Tema complexo. A grande barreira, o apagamento e a abnormidade foram inaugurados por mim. E, por não dependerem do “ser”, e sim haverem concretamente sem ele, não se podem ligar às coisas do mundo, nem a conceitos de fé, crenças, metafísicas, filosofias nem a algo qualquer que se emane de meus semelhantes.
P.S. Assim seja diante de minha ideia do não possa ser, além da grande barreira, objeto de estudo dos abnormais citados e de tantos outros.