Somos seres limitados



Somos seres limitados. Limitados pela natureza e limitados também por desconhecimento. Somos limitados no ser que somos e no que nos é possível ser enquanto tivermos vida. Somos limitados no que podemos perceber, mas somos limitados também no que podemos processar mentalmente e aprender verdadeiramente. Desconhecemos muito, e quanto mais conhecemos, mais temos a provocativa descoberta de que muito mais ainda temos para conhecer. O bom disto tudo, é que, se não para todos, pelo menos para alguns, somos também seres curiosos, e a curiosidade séria, com um ceticismo coerente, e alguma vontade para pensar, pesquisar, experimentar, propor modelos, testar estes modelos, e com humildade para recomeçar quantas vezes forem necessário ou para abandonar o que pensávamos, quantas vezes se nos for provado algo de novo, sem abrir mão de ser racional (quando possível), ser lógico e crítico (sempre), continuamente guiados pela fabulosa força da curiosidade, temos assim conseguido caminhar, como nunca, no que chamo de conhecimentos verdadeiros, e gostemos ou não, choque os ouvidos de alguns ou não, é o método científico, e não a ciência em si (que nada cria pois que estuda o que já aqui está, o que já existe, e que nada descobre em si, pois que a ciência é o próprio conhecimento adquirido, não sendo assim a ciência o método científico), que pode nos impulsionar a cada vez mais saltarmos das crenças injustificadas para algum conhecimento do submundo da realidade, ao invés de pararmos no simples conhecimento superficial dos fenômenos ou das crenças sem provas, mesmo que estas crenças nos pareçam verdadeiras, nos pareçam mais belas, intuitivas, justas ou necessárias. As verdades em si nunca fizeram pacto com o justo, com o belo, com o intuitivo ou com  o necessário, a verdade independe do que eu penso ou do que eu creia que devesse ser, e muito menos ainda do que gostaria que fosse. A verdade não compactua com revelações, não se curva a autoridades do saber, não se perpetua em mitos, dogmas ou mesmo em tradições, lendas ou culturas. Por mais complexo que seja descobrir toda a verdade, mesmo que sobre apenas algum item em especial, com a curiosidade, e com algum ceticismo, com muito raciocínio lógico e crítico, com a proposição de modelos e com profundos e repetitivos testes de confirmação ou de refutação, enfim, com o método científico do nosso lado, ao nosso alcance, estaremos sempre e cada vez mais próximos destas verdades, se não por validações, pelo menos por refutações.
 
Ainda bem que conhecemos pouco (muito é o que conhecemos, mas muito mais é o que desconhecemos, desta forma conhecemos pouco frente a imensidão do que ainda nos falta conhecer), isto significa, entre outras coisas, que temos muito a conhecer ainda, e que o caminhar torna-se assim mais motivador, uma vez que temos sempre muito ainda a aprender, por meio de confirmações (o que talvez nunca seja absoluto, sempre será algo aproximado, talvez sempre seja um conhecimento incompleto e imperfeito) mas também por refutações, uma vez que quando refutamos algo, aprendemos muito com isto, e sobra menos por onde caminhar.
 
Entre muitas coisas que poderia, e espero tenha conseguido ensinar, aos meus filhos, fico imensamente feliz se consegui mostrar a eles, e fazê-los sentir e entender o quanto pode nos mover pelo aprendizado, o uso real e pleno da curiosidade, sempre com um que de ceticismo, para não aceitarmos nada de primeira mão, sem antes colocar em dúvida todo e qualquer conhecimento. A curiosidade talvez seja a mais poderosa força por detrás de todo aprendizado profundo, de todo conhecimento, e quando polvilhada com um que de ceticismo, o caminho torna-se mais robusto para a descoberta, sem entrega a falsas descobertas, pois que a dúvida sempre nos obrigará a ir mais forte e profundo na busca da verdade, de qualquer verdade, de toda a verdade possível.
 

Somos assim seres limitados, mas em nossa limitação somos criativos, ousados e capazes de muito ainda caminhar, e este caminhar é muito reconfortante quando temos a humildade de perceber nossas limitações, mas também nosso potencial.
 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 10/11/2013
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