O que as palavras não dizem
Figuras flamejantes flutuam no ar, afugentando a escuridão ao seu redor. Sombras inquietas e línguas de fogo ardente rastejam, dançando num ritmo exuberante no meio de nenhures, cingidas ao calor acolhedor que me cerca.
Além das chamas alaranjadas, nada se vê. Nada se ouve. Ao longe, a lua repousa inalcançável - uma presença majestosa, adormecida. Quase invejável.
Consegues senti-lo? Que doce silêncio! Silêncio esse, ora, que me apazigua a mente e me embala o espírito, que flui como um rio de palavras obtusas que desagua no âmago da minha dormente consciência.
O mundo observa-me à distância. Aqui sou só eu e a noite, minha eterna companhia. E no fogo falamos, sem nada dizermos. A ti te conto os meus desabafos e ânsias. Os meus desejos e as minhas paixões.
Aqui sou só eu. Sozinho, no meu trono de madeira mergulhado nas fagulhas do meu sol, dou conta de mim e pergunto-me:
Beijar-me-ias esta noite?