Filhos... Educação



Filhos, crianças ou jovens, mesmo os adultos, são filhos do mundo, cabendo aos pais ou responsáveis apenas prepará-los para a vida, para a realidade do viver, e não para a nossa vida ou para a realidade do nosso viver, e muito menos prepara-los para a vida que creiamos ser a real, ou a que creiamos ser a ideal ou a melhor, pois que a vida real já é a própria realidade. Desta forma, e tendo em mente que nossa função enquanto pais, responsáveis, ou mesmo enquanto sociedade, é desenvolver nas crianças o que é das crianças, nos jovens o que é dos jovens e nos adultos apenas e tão somente a dignidade humana, pois que todo o resto derivará deste conceito de dignidade.
 
Eu não tenho que ensinar aos meus filhos, ou a quaisquer crianças ou jovens, minhas crenças ou minhas descrenças, devo ensinar-lhes a pensar livre, corajosa e profundamente, devo instigá-los a serem críticos, a buscarem racionalizar, sempre que possível, sem limites, sem medos, sem tabus ou preconceitos, a serem céticos a tudo que se lhes apresente ou falem, pois que este ceticismo lhes obrigará a estudar e a aprofundar suas percepções, mas que deve caber a eles suas escolhas, não enquanto crianças é certo, mas também enquanto crianças as escolhas de crianças.
 
Crianças  são crianças, são livres, libertas, e são esponjas para aprenderem, e aí está o perigo, principalmente como pais pois que as crianças são naturalmente susceptíveis a aprenderem de seus pais, pois que neles confiam, e como pais não nos é direito induzir crianças a nada, pois crianças são crianças, e devem ser tratadas como crianças. Devem brincar, questionar, investigar, estudar, devem ter suas liberdades de crianças possibilitadas e facilitadas, merecem todo cuidado em questões de saúde, alimentação, cultura e envolvimento social, devem ser livres para crescerem. Neste momento os exemplos de respeito a vida, ao humano, ao social e a natureza são vitais, mas sem catequeses de nenhum tipo, devem ser muito amadas e saberem que o amor é algo salutar e confiável, mas que o respeito é algo muito mais prático.
 
Jovens, são por definição jovens, criaturas ousadas por natureza, e se tiveram uma infância de amor e respeito, jovens serão criaturas confiantes , criativas, curiosas, corajosas, um pouco revoltadas, um pouco rebeldes, como devem ser os jovens, pois são eles que possuem a força motriz de realmente realizarem transformações. Cabe-nos assim, não forçá-los por nenhum caminho em especial, mas mostrar diversos caminhos, mostrar que existirão caminhos que não podemos mostrar por desconhecimento, mas que são passiveis de desbravamento também. Não nos cabe mostrar o caminho certo, ele é uma abstração do real, existirão muitos caminhos certos, não posso lhes mostrar o meu caminho certo, pois que talvez não tenha sido um caminho certo, e mesmo que o tenha sido, terá sido o meu caminho certo, e pode ser o caminho errado para nossos filhos, devemos assim, apresentar caminhos, trilhas, florestas ainda indevassadas, mostrar que em geral os caminhos mais fáceis não levam a lugar algum, ou se perdem no espaço-tempo do viver, que em todos os caminhos podem existir obstáculos, uns mais fáceis e outros mais difíceis, mostrar que as vezes para prosseguir é necessário recuar, e que um recuo consciente não é uma derrota, apesar que muitas vezes seremos derrotados, muitas vezes sem saber de onde veio a derrota, mas que somos preparados para recomeçar quantas vezes forem necessárias, mas devemos os fazer ver que o caminhar sempre será um ação deles, devemos permitir a eles, com franqueza, honestidade, respeito e amor, que usem suas criatividades, suas ousadias, sua revolta e rebeldia, para crescerem como humanos, como seres sociais, como seres da natureza, e não como meros seres dóceis, doutrinados, catequizados, frágeis ou inseguros de si mesmo.
 
Limites sim, doutrinas jamais.
Cuidados sim, exilio do mundo jamais.
independência sim, desconexão com a realidade social jamais.
Caminhar junto sim, catequizar jamais.
Opinar sim, outorgar jamais.
Eles devem, de forma natural, com sua criatividade e curiosidade explorar o mundo, aprender o mundo, e reconstruir o mundo.
 
Não interessa, ou interessa muito menos, o que eu penso, o que eu sinto, ou o que eu creia ser melhor, e sim o que a realidade do mundo é. Interessa muito menos a transformação que eu creia que o mundo precise, e sim a real transformação que possa incluir socialmente milhões de desafortunados e garantir ao nosso planeta, a todos os seus ecossistemas, capacidade de sustentação e manutenção do potencial de evolução natural. Eu entendo que isto seja um pouco do que seja realmente educar, educação com instrução, mas preferencialmente educação com amor, respeito e pela busca de verdades e saberes naturais. Educar não deve ser prepará-los para o meu mundo, mas sim, com liberdade, democracia, respeito coletivo, e também com enorme deferência e consideração para o nosso planeta, e para com toda a biologia que nele existe, prepara-los para o mundo como ele é, e para a transformação humana, social e natural que somente eles, os jovens, têm, com a coragem e a ousadia de buscar e fazer acontecer.
 
O mundo possui mitos e superstições, achar que os livrarei disto é me iludir, os mitos estarão a espreita entre amigos, nas escolas, e nos filmes, livros e televisores, não adianta esconder isto deles, é necessário mostrar que além dos mitos e superstições deve haver algo de real, de interessante, de curioso, de verdade a ser buscado e entendido, e que a curiosidade e algum ceticismo são armas poderosas para o crescimento mental e humano de cada um de nós.
 
O mundo possui perigos? Sim. Cabe algum cuidado? Sim, mas cabe muito mais que eles com o devido cuidado, ousem caminhar por este mundo e aprendam como ele é por si só, e que somos nós, os humanos, que merecem cuidados pela nossa prepotência, vaidade, maldade e desamor. Caminhar pelo mundo requer muita responsabilidade e certo grau de cuidado, pois que os seres humanos são potencialmente maus, perversos, fingidos, insensíveis, interesseiros, omissos, e maquiavélicos, e que assim o cuidado deve ser algo constante, cuidados com o estado aético da natureza, mas principalmente com o estado antiético, imoral e desumano dos seres vivos que se dizem humanos, mas também muito cuidado consigo mesmo, porque humanos, somos também potencialmente fontes destas mesmas fraquezas.
 
O mundo é um continuo de tomadas de decisões, e cabe-nos mostrar a eles que serão eles os responsáveis por cada uma de suas decisões e o alcance final destas. Cabe mostrar a eles que, por isto, pensar é importante, saber pensar é mais importante ainda, mas que pensar sem agir não é viver, que não podem se ver atolados em dúvidas e não caminhar, que se precisarem terão em nós, pais e responsáveis, amigos sinceros para discutir, encarar e aprofundar possibilidades, para debatermos sem preconceitos, mas que a decisão deve ser deles e que podem confiar em nós para estarmos com eles nestes momentos de dúvida, pois dúvidas todos temos, somos humanos. A decisão sempre deverá ser tomada por eles, não adianta procurar nos outros, ou em qualquer ser sobrenatural as suas decisões e escolhas, elas serão sempre de responsabilidade de cada um de nós, e não adianta valorizar o passado, o que deu certo ontem, ou o que deu certo para outra pessoa, não necessariamente dará certo agora, ou dará certo para vocês. Vocês podem e devem ouvir opiniões, mas as suas vidas serão sempre de vocês, e opiniões devem ser vistas somente pelo que são, opiniões, nunca creiam existir verdadeiros sábios ou autoridades do saber que lhes possam definir e indicar categoricamente o caminho de vocês, ou que possam eles, lhes ensinarem a viver e a caminhar, mas que vocês tenham a certeza que verdadeiros pais e responsáveis sempre estarão a disposição para caminhar com vocês, nunca poderei caminhar por vocês, mas estarei disponível para qualquer coisa, posso apoiá-los em suas caminhadas iniciais, mas é preciso que eu diminua pra que vocês cresçam, e se consegui um mínimo de educação correta, vocês saberão como caminhar para que eu possa cada vez mais desaparecer. Lembrem-se, o viver e o caminhar serão sempre jornadas individuais e solitárias em sua essência final, será sempre algo pessoal, por mais cercado de amigos que vocês possam estar, e não adianta delegar a ninguém caminhar ou viver por vocês, somente vocês o podem fazer por vocês mesmos. Vocês possuem o poder de aprender e de caminhar por vocês mesmos. A história nunca será o caminho para o presente, frente ao futuro que sempre se descortina para o agora. A história é simplesmente história. Se conseguirmos mostrar a importância da realidade presente, já teremos sido bons pais ou responsáveis. Se conseguirmos dar a perspectiva do que é ser um humano, e que não basta ser humano se não formos realmente seres sociais, já terá valido a pena ter sido pais ou responsáveis. Se conseguirmos mostrar que nem a moral e nem a ética são por si só absolutas, mas que por outro lado também não são relativas por completo, onde tudo seja possivelmente correto ou onde tudo é permitido, e que por isto a minha moral e a minha ética não são únicas, nem são medidas naturais para as outras, e que talvez nem sejam as melhores, e que assim, devemos aprender a entender e perceber que outros poderão possuir outras éticas ou outros comportamentos morais, e que nem por isso serão menos comprometidos, ou menos responsáveis pela dignificação do viver humano e social, nos obrigando assim a um estudo crítico de cada ato ético ou moral, meu ou dos outros, onde devemos entender que tudo que não macule a dignidade humana e social, ou a perpetuação da natureza, é por definição aceitável ética e moralmente, cabendo apenas a questão de que será tão mais ético ou moral, aqueles atos que permeiem por mais tempo, por um número maior de pessoas, por um maior espaço geográfico possível, as dignidades humanas, sociais e da natureza, em especial a biológica.

Sei que posso estar totalmente errado, mas errarei por minha total conta e risco, e somente o futuro me mostrará se, no geral, errei mais ou acertei mais, mas catequeses, quaisquer que elas forem, religiosas, politicas, ou seculares, quero-as distantes de meus filhos, sei que algumas vezes poderei parecer insensível para com meus filhos, mas prefiro parecer insensível, do que me sentir insensível a necessidade de que eu diminua para que eles cresçam...

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/11/2013
Reeditado em 04/11/2013
Código do texto: T4556239
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