Pensar por si mesmo


Pensar, por si só, por si mesmo, requer coragem e ousadia, coragem para não transferir parte, ou mesmo toda, responsabilidade ou culpa para terceiros, para ninguém, para deus algum, tendo a coragem de sempre rever seus paradigmas, suas crenças ou mesmo suas verdades, tendo a coragem de buscar fazer acontecer, e requer também ousadia para, com coragem, caminhar por seus próprios passos, acertar ou errar por seus próprios meios, e saber que vai ofender, ou melindrar, muitas pessoas, e muitos interesses, em especial políticos, econômicos e religiosos. Ser livre pensador é ter a coragem de ir com seus pensamentos onde os fracos, os temerosos, os catequisados, os domesticados, os fanáticos, os superficiais, e os condicionados jamais terão a ousadia de chegar, é pensar com o máximo de profundidade e sem preconceitos tanto o certo quanto o errado, o feio quanto o bonito, o ético quanto o não ético, o humano quanto o desumano, o justo quanto o injusto, o digno quanto o indigno, até mesmo para buscar entender se era realmente certo ou errado, feio ou bonito, ético ou antiético, humano ou desumano, justo ou injusto, digno ou indigno. Mas ser livre pensador é ter a certeza que deve pensar com amor, pois que razão absoluta sem amor pode nos levar a uma frieza tal e a uma ditadura do saber que nos faça infelizes humanos, mas é saber também que amor sem racionalidade, levará, por outro lado, a uma sociedade fraca e desumana pela própria falta da razão lhe dando limites, direção e foco no amor, e dando grandeza maior na prática e na construção deste amor.
 
Ser livre pensador é não aceitar dogmas, preconceitos, é não aceitar autoridades do saber, revelações ou achismos, é ser crítico, é buscar ser racional, é não abrir mão de verificar as fontes, é ir o mais fundo possível em seus pensamentos, é buscar opiniões contrárias, é ser um pouco cético, é estar preparado para jogar fora tudo quanto sabe ou tudo o que crê, quantas vezes for necessário, para recomeçar do zero, se necessário for, em nome da busca da verdade real, não da verdade superficial, não da verdade interpretada, da minha verdade, ou da verdade de quem quer que seja. Ser livre pensador é saber que muitas são as interpretações, mas somente uma é a verdade real, como um círculo que movimentado, em alguma posição se parecerá como um único segmento de reta, ou um cubo que com a mesma movimentação poderá parecer um simples quadrado, mas que de forma real e verdadeira continuam sendo círculo e cubo, independente de minha percepção ou de minha interpretação. Ser livre pensador é saber que muitos não te entenderão, alguns jamais te entenderão, inclusive te abandonarão ou terão vergonha de tê-lo como amigo, algumas vezes é estar preparado para sofrer pela incompreensão de sua própria família, e de seus próprios pais que podem não conseguir te aceitar ou te entender.
 
Ser livre pensador, mas não ser livre ator de sua própria existência, onde esta liberdade não signifique libertinagem, mas que seja algo dentro da dignidade social e humana, que comungue com o bem estar social, mesmo e principalmente quando venha contra padrões estabelecidos, não serve de muita coisa, é como um filósofo que busca, mas que nunca aprende. O sábio que absorto em sua sapiência se esquece de que vivemos, ou deveríamos viver, uma realização social, onde mais de 820 milhões de pessoas sofrem da miséria da fome, é para mim um pobre coitado. O sábio que em seu estado de graça abandona à desgraça irmãos em espécie, que superando as suas tensões se omite das transformações, que enfim, encontrando sua falsa felicidade, relega a infelicidade toda uma população, para mim não passa de um zé ninguém, que de sábio tem somente as letras, não o sentimento que verdadeiramente pode nos tornar sábios, nossa humanidade e nosso ser social. Por estas e por outras não creio em sábios, mas valorizo os ousados por uma transformação, os aventureiros que se lançam de corpo e mente em uma jornada pelos desfavorecidos, mas uma jornada de transformação e não de simples maquiagem que mantenha e de continuidade a tudo o que aqui está. Reconheço-me naqueles que sofrem com os que sofrem, que ficam alegres com os alegres, mas que nunca, jamais, encontram a felicidade plena pois que uma multidão sequer sabe o sentido real do que é ser socialmente humano, o que nos torna irresponsáveis se acreditamos que podemos ser felizes frente ao abandono social de muitos. Volto a repetir, mesmo com a possibilidade de ser mal interpretado que, a caridade é necessária, mas não suficiente, pois que nada transforma, pelo contrário ajuda a dar sustentação ao estado de coisas sociais, humanas e politicas que já existem.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 02/11/2013
Reeditado em 02/11/2013
Código do texto: T4552742
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