Esperança


Vivo em razoável desesperança, sem ser, contudo, algum desesperado. Ao longo do meu viver abri mão de quase todo sentido ou sentimento de esperança, em especial daquela esperança que de mim diretamente não dependa. Impossível, pelo menos para mim, abrir mão de toda e qualquer esperança, pois que ainda busco minha humanidade, porem, daquelas esperanças que de mim não dependam para o seu alcance final, abandonei-as pela estrada do viver. Isto não me faz melhor ou nem pior do que qualquer outro, mas retira de mim a dor da espera, em alguma esperança, que pode nunca acontecer, e desta forma não sofro pelo que de mim não dependa. Esperar faz parte natural de meu dicionário do viver, mas esperar é uma necessidade física para que as coisas possam acontecer, entretanto esperar não significa ou nunca significou ter esperança de algo.
 
Encontrar a desesperança, não significa imergir em desespero. Não sou desesperado, pelo contrário, com a desesperança encontrei um novo nível de paz em meu viver, amo o que tenho, busco e trabalho para que as coisas aconteçam, me esforço para construir o que queira e o que entendo ser bom ou necessário para mim e para a humanidade, mas não empenho esperança alguma sobre aquilo que esteja fora do escopo do que possa eu fazer, ou ajudar a fazer. Mesmo para aquilo que esteja parcialmente sob meu alcance, uma vez que nunca estaremos sob total domínio de nada, pode nunca acontecer, por uma infinidade de causas externas a mim, agora imagina sobre aquelas coisas que não estejam sobre minha capacidade conseguir. Esperança é um passo a mais para perto do sofrer, então preferi retirar esta porta do meu caminho.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 02/11/2013
Código do texto: T4552598
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.