Dia da ira ou como dói uma pisada num calo ou qual a vantagem de um barraco?

, pois é, pisaram no meu calo hoje. Com força. Doeu demais da conta e eu fui forçado a reagir.

Quisera eu que este calo fosse um calo real, ósseo e situado na extremidade de meus pés. E também que a reação fosse apenas um chega pra lá no desavisado que o pisou. Mas, infelizmente, não foi.

Falo aqui de uma pisada na minha calosidade "moral", se assim posso chamar o momento em que nos sentimos ultrajados em nosso papel de seres pensantes e responsáveis por nossas próprias vidas. O momento em que descobrimos que estamos como desavisados fantoches, tendo nosso destino traçado por mãos alheias.

Será que é tão difícil às pessoas esperar um prazo? Ou telefonar antes um pouco se tal espera lhes for tão penosa? Quanto custa um telefonema, talvez de segundos, que se destine a fazer uma única e simples pergunta cuja resposta é apenas SIM ou NÃO? Ignoro totalmente e parece que ninguém quer também pensar neste assunto desta forma, olhando por este ângulo. Preferem a mesma velha história de perguntar depois dos tiros dados.

E lá estava eu, aviltado, desrespeitado, com decisões tomadas em meu nome e sem nem ter como corrigir. Então berrei. Com todo o ar de meus pulmões. Fiz cena. Armei barraco. Como adoro o lado passional de ser.

Ora, também sou barraqueiro e sei "descer do salto" dos bons modos e da preocupação com aparências quando julgo necessário. E hoje era necessário, sumariamente necessário. Além do mais, sem darmos motivos, já existem chatos demais que falam de nossas vidas. Que falem com razão a partir de agora, não me importo.

E, com tal escândalo, resolvi a situação. Porém, em vez de sentir-me feliz e realizado, fiquei triste ao ver que as pessoas, na ânsia de "vencer" um jogo social armado, cretino e vulgar; fazem-se de vítima e revertem a situação totalmente. E a vítima sou eu. Ou era eu, já nem sei.

O extravasamento de minha indignação resolveu o problema e colocou-me em outro, este mental.

Agora estou a lutar com minha consciência para descobrir qual o pior: calar-me e aceitar uma situação inaceitável ou bradar, resolvê-la e no entanto ser tido como um anormal?