D'Ele
Eu estava sentada, perdida em pensamento, talvez pensando na vida, no rumo que ela ainda não tomou (um clichê tão viciante quanto mascar goma após o almoço), de repente um moço arrebatou a minha atenção e tirou a minha paz momentânea (leia-se dispersão, mesmo), um moço que não estava ali em presença, estava apenas em minha memória (em toda ela, por sinal), mas era claro, tal qual uma visão real.
Fitei os olhos no infinito e me perdi em lembranças, pensei nele, em seu jeito penetrante de olhar, em sua forma cativante de chegar (e enrolar a pessoa com seu papo charmoso), em sua forma marota de dançar, em seu andar confiante e em como tomava conta do espaço em que chegava (com toda a alegria que contagiava até o mais mal humorado dos seres humanos).
Lembrei dos seus gestos mais simples, como ele mexia no cabelo e reclamava que estava grande (tão bonitinho), o jeito que coçava a barba e dizia que precisava apara-la, a forma vibrante e ao mesmo tempo suave que cantava para mim (aqueles versos jamais sairão da minha mente, mesmo ele errando a letra), só de pensar sinto o corpo arrepiar, todo ele, cada milímetro.
Ainda me pego (boba) sorrindo, só por estar lembrando dele, me vem a mente sua imagem (garotão), boné, bermuda, camisa e chinelas (descompromissado, largadão), sorriso fácil e cativante que ele fazia questão de esbanjar, sorriso puro, infantil, gostoso de se ver e acompanhar.
Fico que nem louca, sorrindo sozinha, dele e para ele (que não esta mais aqui, só em pensamento), penso no abraço que ele me deu, abraço gostoso e grande, tão grande que me tomou por inteiro, me acariciou, me apertou, me aqueceu e me deixou carente dele.
Como não mencionar as brincadeiras que ele fazia, as bobagens que falava, as piadas que tanto me fizeram rir?! Ainda sinto o cheiro do hálito fresco de bala de cereja e menta que ele tinha( que me inebriava), ainda sinto o toque das mãos dele que de tão macias pareciam toque de seda.
Dele lembro (prefiro lembrar) apenas as coisas boas, dos risos que me tirou e que ainda me tira.
Não quero lembrar das lágrimas que derramei, das noites que passei soluçando, das raivas que me fizeram rasgar todas as fotos dele, da vontade extrema de extermina-lo do mundo e do desejo (por apenas um segundo) de nunca te-lo conhecido.
Não quero lembrar o quanto sofri, o quão rouca fiquei de tanto cantar músicas "fundo de poço, dor de cotovelo (todas as que conhecia e ainda busquei mais) e muito menos quero lembrar das inúmeras barras de chocolate que comi, todas com sabor alterado (de tantas lágrimas que recebiam), isso é o passado mais que obscuro da nossa relação que eu guardo a sete chaves.
De tudo que sofri, de tudo que vivi, de tudo que eu tive, nada foi mais forte que as lembranças maravilhosas, dos risos, da lembrança meiga dele, que ainda são fortes e presentes em mim(a parte que eu não dispenso).
Um dia, quem sabe, a gente senta e lê isso juntos (eu e ele) e decide se a pontuação é final ou de continuação
(F.S)