Mistério

É noite. O vento sopra em minha face os segredos da existência na sua linguagem sensível e ininteligível. O mistério se dobra sobre ele mesmo em minha consciência que tenho de existir, pois também sou o próprio mistério do existir. Ah, existir... Tamanha insanidade de ser e sentir. Pensar, fechar os olhos e sonhar com mundos tão sólidos quanto a vida material em que vivo encarcerado. O que é a vida? Um sonho dentro de outro sonho? Um jogo de acaso sem sentido? Estamos viajando pelo espaço rumo a lugar nenhum, fazendo coisas inúteis e sem motivo.

O horror de pensar, de ver e questionar perturba-me. Invejo a natureza sem razão, que segue de olhos vendados sem questionar o porquê de existir e vivenciar este grande teatro estranho que é a vida. Quis compreender os mistérios profundos do universo, mas não achei respostas, deixando a mente ferida por ser mistério do profundo mistério de existir. Eu, o próprio segredo de tudo que aquilo há, tento compreender o abismo no qual meu ser habita, mas vejo somente feridas, doloridas, sendo abertas cada vez que não encontro uma saída. Ser, pensar, sentir... Ânsia de ver e ouvir; O desejo de não ser, de deixar este horror de viver é tão intenso quanto o brilho de todas as galáxias do universo.

O frio corta-me o ser, e fico a pensar e sentir, tentando entender o que é ser e sentir. Já não consigo largar a maldição de pensar, quis entender a verdade, e quando compreendi o mistério da verdade que, aliás, deve ser a única verdade ser mistério, quis apagar-me da existência pois jamais o mistério descobrirá o mistério que se curva sobre si mesmo, assim como o símbolo do infinito. Assim eu sigo neste ergástulo infernal com receio de que isto nunca acabe. Sinto-me angustiado, apavorado, o reflexo de meu conhecimento se reflete em todas as coisas que meus olhos enxergam. Seria a verdadeira sabedoria saber tanto a ponto de entender que nada saber é a verdade de todas as coisas?

Sentado sob a umbrosa de uma árvore - o capim me agoniando as pernas - fito o silêncio aterrador do mistério que grita nesta noite lúgubre infernal. Ao longe, corvos grasnam com desatinação, o vento lamuriando uma triste e estranha canção faz de meus ouvidos o telespectador de todo aquele teatro aterrador, mergulhando-me no delírio de nada saber sobre o mistério da existência.

Não, não quero mais a verdade, foge-te de mim, maldição, deixe-me sozinho... Tu és tão insana e absurda que me envolveste neste mistério lúgubre que perturbou até mesmo a mente dos grandes sábios que passaram pela terra. Grandes homens que encaram o mistério frente a frente, morreram na ilusão de suas verdades, e hoje jazem mais misteriosos do que antes. O mistério perdurará, pois a vida se faz do desconhecido, e ser desconhecido é desconhecer a si mesmo, e a vida sempre continuará a buscar a si mesma na mente dos grandes pensadores. É a vida se fazendo pelos olhos dos curiosos, brincando de se esconder para não perder sua falta de sentido que a impulsiona a ter sentido... sempre correndo atrás do próprio rabo, renovando a si mesma para todo o sempre.

E nós, pequenos mortais pensadores, somos a vida que busca por si mesma, somos os personagens de nós mesmos, imaginações da própria vida que, pela razão desconhecida, se objetiva pela consciência de quem a busca, e assim se a faz vida pelos olhos curiosos do mistério de ser ser...

E naquela noite misteriosa eu vi que não acharia respostas, pois a resposta era eu ser Eu, ser mistério de mim mesmo, ser desconhecido de mim mesmo, e a única finalidade da natureza é ser mistério por talvez não haver mistério nenhum, e o sentido oculto das coisas é não ter sentido oculto nenhum... Só existe vida e nada mais, sem individualidade, formamos a singularidade que unifica a vida como um todo, e vistos de uma perspectiva universal, somos todos uma só e mesma coisa; somos a vida.

Ai daqueles que pensam; ai ainda mais daqueles que nada pensam, pois pensar é enlouquecer, e enlouquecer é ter consciência de si mesmo. Mesmo que ter consciência de si seja perturbador, somos nós, os loucos que, pelos nossos olhos, se faz o mistério que impulsiona a vida a buscar a si mesma para preencher a falta de sentido com o sentido que nunca vai alcançar, para sempre continuar a existir e se renovar para todo o sempre...

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 29/10/2013
Reeditado em 30/01/2014
Código do texto: T4547523
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