As coisas reais existem por si mesmo?
O mistério a que atribuo a existência das coisas é dado somente pela minha observação, pois a realidade das coisas que não pensam é simplesmente existir sem saber de sua existência, não possuem mistério nenhum para si mesmos, e sua única finalidade é existir. Como pode algo existir sem saber que existe? Faço-me essa pergunta sempre que observo uma pedra. A pedra existe, eu sei porque a vejo e a toco. Mas a pedra enquanto pedra, dentro daquilo que a define como pedra, pode dizer que existe? Ela existe para si mesmo? Poderia eu, num tempo em que minha consciência se extinguir, existir sem consciência de existir? Assim como a finalidade da pedra é existir sem saber que existe, minha finalidade deve ser existir com consciência da existência das coisas que existe, para que talvez isso objetive a existência daquilo que por natureza só pode ser conhecido pelos seres conscientes do existir. Eu, enquanto ser consciente das coisas, sei que as coisas existem por que existo, mas continuaria a existir coisas quando eu deixar de ser? Não sei. Nunca sei de nada. Uma pedra sabe tanto quanto eu. Mas...
Sei que existo, mas não conheço a essência desse existir, de certa forma não me distinguo da pedras. Será que existo? E assim como eu posso dizer que uma pedra existe sem a pedra saber que existe, atribuindo à pedra algo tão grande como a existência, seria eu o efeito observacional de um outro ser? Eu sei que existo, mas sou desconhecido de mim mesmo; será que existo por ser atributo de uma observação que reflete em mim essa consciência de existir, assim como reflito minha consciência de existir às pedras, assim como reflito meu mistério interior às coisas exteriores? (...)
Seria a existência apenas uma observação dentro de outra observação? Uma visão. Quem sabe, até um sonho.