Como é estar na segunda metade da sua vida?
Não é fácil. Por vezes muito vazio. Não que seja triste, contudo, solitário, melancólico... Num momento muita gente ao redor, noutro instante solidão total. Quando se tem quase meio século observam-se muitas coisas, fazem-se reflexões, pensa-se: “como teria sido se tivesse feito desse ou daquele jeito”.
Por vezes acredita-se que se fez tudo errado e por isso advém a solidão. Pode ser apenas uma fase. Nada, nada mesmo pode substituir o convívio de um ser humano com o outro. Precisa-se dessa interatividade, somos animais sociais. Na verdade precisa-se de alguém até mesmo para brigar e divergir porque tudo isso faz parte da natureza do ser humano.
Meio século de vida, sabe-se o que é estar apaixonada, sabe-se o que é amar, sabe-se cada coisa que se gosta e que se não gosta, sabe-se o que dá prazer, também se sabe o se quer e o que não se quer... Comumente, experimentam-se ondas de alegria e ondas de tristeza mescladas em frações de segundos... Sabe-se um pouco a mais, sabe-se um pouco de tudo, entretanto, o que fazer com todo esse saber?
Os filhos estão ficando adultos rápido demais. Parece que foi ontem que eram adolescentes. Enchiam a casa de colegas. Sempre almoçava mais um. O computador na sala dava a impressão de um cyber café com tantos adolescentes em volta. O tempo passou, quem casou, casou. Quem juntou, juntou.
Até hoje quando eles chegam a casa enche de alegria. Falam alto para cá e para lá. O fogão funciona mais. Duas ou três TVs ligadas ao mesmo tempo. Todas as luzes acesas. Sinal de vida na casa. Isso é bom.
Todos se foram. Saudades. Normal. Pior que sentir saudades daquilo se teve é ter saudades daquilo que nunca existiu... Essa saudade daquilo que não vivemos daquilo que não tivemos... Ahhh! Essa é cruel. Essa causa carência, mau humor, tristeza, sensação de perda... Perda do que não tivemos...
Na segunda metade da vida é isso, muita confusão, confusão mental, sentimentos fragmentados expostos em um texto recortado. Um texto que não tem coerência semelhante à fase de transição do poeta. Tudo se assentará... Pois, na vida tudo passa!