Estranha
Aqui, bem dentro de mim, nesse local inacessível a todos, onde os gritos não podem ser ouvidos e as lágrimas e os sorrisos se escondem como pérolas, sinto-me estranha. Ninguém percebe, ninguém perceberá, mas eu sinto: me sinto, te sinto, vou continuar sentindo.
Um momento, poucas horas, sem amor, sem promessas, com ecos. Palavras que continuam sendo ouvidas, carícias que ainda tocam meu corpo, o perfume que persiste e que água nenhuma poderá tirar da pele. As sensações que pintam esse quadro indescritível que foi a junção de nós dois, comandados pelo desejo, culpados de tudo e ainda assim, crianças incoerentes.
Talvez seja o tempo, esse fim de tarde ensolarado de quase verão ou mesmo culpa das estrelas que insistem em iniciar o bordado de um céu perfeito, mas eu ainda te enxergo, nos mínimos detalhes, na música que vem despertar tantos sentimentos, nas lembranças de algo que poderia ter acontecido, mas o destino não permitiu...
Engraçado alguém ser tão familiar e tão desconhecido, ausente e permanente. Estranho dividir lençóis com alguém com quem não se falava há meses e ser tudo tão natural...
Estranha, é assim que me sinto, porque já não há mais lugar para o esquecimento, tampouco para a continuidade.