Deleite do caos
Sou uma grande apoiadora do caos. Não considero possível a qualquer ser humano, viver longe da inquietante sensação do caos. É como está num eterno estado de liberdade. É como respirar sensações diversas, sem ter consciência de qual delas te embriaga mais. O caos abre os poros, dilata as veias, verte o sangue grosso e úmido. O caos dilacera sem pena, rasgando sutilmente a pele mais sensível, o revestimento mais frágil, de qualquer consciência sã. É uma mistura bem medida de violinos afinadíssimos e as dementes notas de um piano. É um beijo dado a esmo. Um toque despretensioso. Um olhar mais intenso, um desconcerto. Caos é sentir o vento bater forte nos cabelos e deixar que os dedos arroxeiem-se de frio intenso. Caos é pular de encontro ao abismo, sentindo a morte penetrar a boca, ir corroendo cada centímetro de órgão vital pelo extenso caminho do corpo. Caos é parar. Caos é está em caos. A vida segue em caos, a vida morre em caos. Nascemos do caos, do encontro surreal de almas insanas. Nascemos da gana do desejo, que causa medo, medo caótico. O caos é preciso, caso queiramos a felicidade extrema. Sem caos não há amor, sem amor não há vida e, sem vida, nada existe. Caos é o silencio e a paz de um nada a dizer. Caos é o seu eu perdido em algum canto do meu. Caos é um estado de alma, caos é a calma da vaga praieira. Caos é uma sexta-feira, fim de labuta, início de fantasia. Caos é uma obrigação, caos é uma abstração. Caos é inverno e verão, primavera e outono. O caos do abandono, do nada, da completude. Caos...