ACIDENTAL VERTIGEM
Chove silentemente no acidental do ser
enquanto multidões de vultos celebram madrigais
por veredas puídas a pulsos e impulsos insones.
Se lhes olho e aceno, verbalizo o vento
e perscruto-lhes o cerne em reflexos de dor.
Se lhes passo às margens dos veios vívidos,
alucino caos em ausências do conforto similar.
Pois, nos ares dos incautos, onde brilham seivas de palavras,
sou também poeta, amante e fausto em atuações náufragas
por cerniência de não poder ser além de apocrifias,
nem que adormecesse mil relentos desterrados.
E, como os demais vultos despercebidos de suas vagas nuas,
assim também, de meu tumulto angustioso, semeio-me
entre jardins cromados de sonhos inexeqüíveis
e pedreiras espargidas de quedas inevitáveis.
Porque, em esforço vão na busca do não-ser,
meu maior sonho habita minha maior descrença
nas profusas efusões de tantos equívocos.
Péricles Alves de Oliveira